Texto: Felipe Lima Publicado em 30.10.2017

Conforme a professora do Departamento de Psicologia da Universidade Federal do Ceará (UFC) Zulmira Bomfim, no âmbito da Prefeitura, entre os principais desafios atuais para a sustentabilidade no ambiente urbano está a uma integração entre a gestão urbana pública e a construção de novos valores de habitabilidade urbana.

“Isto significa que é necessário, por parte da gestão pública, conhecer as reais necessidades da população, que em nossa teorização envolvem questões subjetivas de ordem afetiva, assim como estruturais, sociais, culturais e econômicas. O bom convívio das pessoas provém principalmente do respeito às diferenças e da possibilidade do espaço urbano estar aberto às necessidades individuais e públicas”, explica ela, que é doutora em Psicologia Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP).

É necessário ouvir o cidadão e abrir-se para a participação destes nos rumos da gestão urbana
Zulmira Bomfim, professora da UFCFOTO: Ribamar Neto/UFC

Coordenadora de um projeto do Laboratório de Pesquisa em Psicologia Ambiental (LOCUS), que trabalha com a ideia de estima de lugar, definida a partir da projeção dos mapas afetivos, Zulmira Bomfim reforça que é importante que as políticas públicas facilitem o sentimento de pertencimento e de identificação com o espaço público e suas formas de apropriação neste, mas que sejam também construídas a partir do próprio desejo dos moradores.

“Quando as intervenções urbanísticas são feitas sem a escuta e a participação cidadã, a resposta da população pode ser em alguns casos a depredação e de marginalização. Quando as políticas públicas urbanas facilitam com que o espaço público seja uma extensão da casa do cidadão e de si mesmo, haverá identificação e apropriação do espaço”, comenta.

Nesta perspectiva de construção para e com as pessoas, Roberto Cláudio diz que estar próximo dos moradores é uma lição diário. O prefeito, em visitas a obras, afirmou que acreditar num futuro melhor para os fortalezenses é possível quando se caminha junto pelo mesmo propósito.

“Sabemos da grande responsabilidade que é cuidar de Fortaleza e só conseguiremos transformar cada vez mais a nossa cidade ouvindo a população, entendendo o que cada comunidade precisa e tendo a humildade de dialogar com todos que também buscam um lugar melhor”, destacou o chefe do Executivo municipal.

SOCIEDADE E CULTURA

A relação com o ambiente tem influência no nosso comportamento e é um fator que ajuda a definir nossa identidade. A afirmativa vem a partir de um estudo do Laboratório de Pesquisa em Psicologia Ambiental (LOCUS), do Departamento de Psicologia da UFC, que tem analisado a relação de jovens de baixa renda de Fortaleza com os lugares que costumam frequentar e como isso afeta os “sentimentos potencializadores de ação”.

Pesquisadores trabalham com a ideia de estima de lugar, definida a partir da projeção dos mapas afetivos, um método de investigação dos afetos com relação ao ambiente. Eles foram construídos a partir de vários questionários aplicados a 293 jovens de escolas públicas de Fortaleza, distribuídas entre cinco regionais da cidade, e de desenhos elaborados por esses estudantes. Dessa forma, os mapas permitem relacionar o ambiente aos sentimentos dos jovens, tentando agrupar esses sentimentos em cinco categorias de imagens do lugar: pertencimento, agradabilidade, destruição, insegurança e contraste.

FONTE: Agência UFC

Ainda sobre a construção conjunta entre gestão e população, Zulmira Bomfim reforça o papel do cidadão na colaboração para ambientes mais saudáveis na questão da boa convivência com a natureza e os espaços públicos.

“É necessário ouvir o cidadão e abrir-se para a participação destes nos rumos da gestão urbana. É necessário também um política urbana que propicie ao cidadão a aprendizagem de valores provida e não somente do consumo. Para isto é importante a aprendizagem de valores de convivência nos espaços abertos e naturais, e não somente o shoppings que são ambientes fechados à natureza. O desenvolvimento humano está diretamente relacionado como os elementos encontrados nos espaços abertos”, defende a pesquisadora.

Ideia do projeto Cidade da Gente é mostrar que é possível priorizar as pessoas e garantir mais segurança viária a pedestres, pessoas com mobilidade reduzida e ciclistas, por exemplo FOTO: Marcos Moura/Prefeitura de Fortaleza

Como incentivo à ocupação do espaço público, Roberto Cláudio anunciou o projeto Cidade da Gente. Implementado no fim de setembro, o projeto, que tem apoio da Iniciativa Bloomberg de Segurança Viária Global, é uma intervenção temporária na Cidade 2000.

“Este é o primeiro local de Fortaleza em que transformamos uma área de carros em uma grande praça. Projetos-pilotos como este nos servem para experimentar, avaliar, ouvir a população e, se tiver apoio, a nossa obrigação é adotar e expandir essas medidas. Nós acreditamos que essa ideia vai prosperar e ir para outros locais da nossa Capital”, diz o prefeito.

Apesar da atual gestão municipal ter investido em mobilidade, expansão e revitalização de praças, limpeza de locais públicos, os caminhos para uma "cidade das pessoas" levará tempo e enfrentará grandes desafios. Para a Profa. Dra. Zulmira Bomfim, é essencial uma integração com políticas de saúde, educação e de equilíbrio com outras necessidades da cidade e da população em geral.

“As sustentabilidades na cidade provêm de maior circulação principalmente dos transportes coletivos. Maior mobilidade de veículos não poluentes e do aumento de árvores e de praças que amenizam o clima e aumentam a agradabilidade da cidade. É importante também considerar o patrimônio construído e natural, pois este é a memória da coletividade da cidade”, finaliza Zulmira.

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