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Colaboração: Alex Pimentel Publicado em 28.08.2017

Ser milionário ainda é o grande sonho de muita gente. Mas só existem quatro maneiras de ser rico: nascendo, casando, trabalhando ou ganhando na loteria. Como nascer rico é privilégio de poucos, casar está cada vez mais difícil e trabalhar até ficar milionário é um sonho cada vez mais distante, visto tantos impostos que o brasileiro paga, é nas loterias que as pessoas depositam suas últimas esperanças de ter uma vida de luxo. Fazendo uso da sorte, qualquer pessoa escolhe seis números e, com apenas R$ 3,50, pode literalmente mudar de vida.

R$ 17.517,50

é o valor que o apostador precisa desembolsar caso queira apostar em 15 números na loteria

Criada em 1996 pela Caixa Econômica Federal (CEF), a Mega-Sena é hoje o maior prêmio de loterias do País. Com valores que sempre passam da casa dos milhões, o jogo de azar realiza geralmente dois sorteios por semana, um às quartas-feiras e outro aos sábados. Eventualmente a CEF faz semanas especiais onde realiza sorteios extraordinários. Neste ano, já houve sorteios extras para o Carnaval em fevereiro e para o Dia das Mães, em maio. O mais recente foi em julho, onde a "Mega Semana de Férias" pagaria quase R$ 8,5 milhões. Agora em agosto tivemos a semana do Dia dos Pais. As próximas semanas especiais acontecerão em setembro (Primavera), outubro (Sorte), novembro (República) e dezembro (Natal).

Ganhar não é fácil. De acordo com a CEF, com uma aposta de seis números a chance de ficar milionário é de uma em 50.063.860. Para aumentar as probabilidades para uma em 10 mil, o apostador pode escolher 15 números, mas para isso precisa desembolsar R$ 17.517,50 com um único jogo. É nas chances maiores que os jogadores em grupo botam suas esperanças.

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Andrea Almeida passou a acreditar mais na sorte em 2017. A bancária conta que os colegas de trabalho sempre fazem bolões e decidiu participar dos jogos. "Sempre tem grupos se formando, mas não são sempre as mesmas pessoas, é uma coisa meio aleatória". Ela explica que todo mês os jogadores fazem uma cota para a realização das apostas. "A gente tá gastando R$ 180 todo mês. Esse dinheiro é para os jogos semanais da Lotofácil e para ocasiões especiais, como a Mega da Virada ou a Quina de São João, que inclusive ganhamos quase R$ 6 mil!". Apesar de ter ganhado um valor pequeno, cerca de R$ 450, ela revela que não vai desistir.

Colega de profissão de Andrea, Lucilene Cavalcante disse que passou a jogar por causa da possibilidade das amigas ficarem milionárias. "Imagina só: elas ganham e ficam ricas e eu continuo pobre? De forma alguma, vou jogar também!". A funcionária pública participa do mesmo bolão de Andrea e conta que já ganharam algumas vezes. "Ah já foram vários jogos pequenos que na maioria das vezes a gente faz é reinvestir o que ganha". Elas explicam que geralmente um dos jogadores fica responsável por fazer os jogos na lotérica, mas que às vezes o grupo compra jogos do Seu Martins, um vendedor de apostas que traz bilhetes prontos para o local de trabalho. "Ele é um senhor que frequenta aqui as dependências do banco faz mais de 30 anos, por isso confiamos nele", conta Andrea.

5,7 milhões

é a média de transações/apostas por concurso em 2017

Por ser um bolão, a escolha dos números é feita em grupo. "Nós damos sugestões e escolhemos juntos". Ela revela que é um pouco supersticiosa com a escolha das apostas. "Todos os meus jogos têm que ter o número um". Lucilene também tem suas crenças. "Gosto de usar aniversários, acho que o dia que nascemos pode trazer algo especial".

Lucilene conta que, além das apostas com os amigos, também faz jogos individuais. "Já que nos bolões não posso usar todos os números que eu quero, de vez em quando eu jogo por conta própria mesmo". Quem tem conta corrente da CEF pode realizar apostas através do Internet Banking no computador ou usando os aplicativos para iOS ou Android, das 8 às 22h, horário de Brasília. Com a facilidade, o jogador pode fazer suas apostas sem sair de casa. Como tem preguiça de ir a uma casa lotérica fazer as apostas, a bancária usa o aplicativo da Caixa para jogar. “É só acessar a parte das Loterias pra fazer as apostas, é muito fácil”. Lucilene conta que se ganhar um valor alto não vai gastar. “Eu vou investir em alguma coisa e usar os rendimentos para complementar minha renda, jamais gastaria o dinheiro todo”, finaliza.

Prêmios

Apesar das Loterias terem diversos jogos, nem todos os prêmios podem ser retirados nas lotéricas. Se o valor for de até R$ 1.903,98, o sortudo pode retirar o dinheiro em qualquer casa lotérica credenciada ou nas agências da Caixa. Acima dessa cifra, o ganhador só pode reclamar o prêmio em uma agência da CEF. Caso a bolada seja acima de R$ 10 mil, o prazo de pagamento é de até dois dias úteis após o comparecimento à agência. Como os bilhetes das Loterias são ao portador, a Caixa alerta que o sortudo deve, antes mesmo de sair de casa, se identificar com nome completo e CPF no verso do bilhete premiado. Dessa forma, o apostador garante que ninguém mais retire sua bonificação. O banco esclarece que o vencedor não é obrigado a depositar o seu prêmio junto à Caixa Econômica Federal. Ele pode enviar seus valores para a instituição financeira de sua preferência.

Quarta-feira é o dia da semana com mais apostas

Nele ocorrem concursos da Mega-Sena, Lotofácil e Quina, que são os 3 maiores produtos em arrecadação e quantidade de transações das Loterias da Caixa.

É importante salientar que o ganhador não deve demorar em retirar seu prêmio. Apostas ganhadoras de qualquer uma das Loterias Federais prescrevem com 90 dias corridos, a contar da data do sorteio, e o dinheiro dos prêmios não resgatados no prazo é transferido para o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). Segundo dados da Caixa, apenas no ano de 2016 foram repassados ao Fies R$ 320,42 milhões relativos a prêmios não resgatados. De janeiro a junho de 2017 os valores já chegam aos R$ 135,39 milhões.

Números

Em pouco mais de 21 anos, a Mega Sena já pagou mais de R$ 8,374 bilhões (R$ 8.374.947.135,31) à 659 ganhadores. Segundo dados da CEF, o Estado mais premiado é São Paulo, com 189 sortudos e sua capital é também a cidade mais premiada do País, com 37 ganhadores. O Ceará acumula “apenas” 17 vencedores, que juntos trouxeram para o Estado mais de R$ 200 milhões (R$ 207.934.270,55).

31,71%

é o percentual do valor total arrecadado que o vencedor da loteria leva para casa

7,76% para o Fies

Parte do dinheiro arrecadado é destinado ao Financiamento Estudantil (FIES)

15

foi o maior número de ganhadores em um único concurso, cada um levou R$ 348.732,75

Desses, pelo menos cinco são de Fortaleza, já que o registro público dos ganhadores por cidade só passou a ser feita a partir do concurso 1.077, em 27 de maio de 2009. Juntos, os prêmios dos ganhadores fortalezenses somam R$ 48.687.180,53. Foi também a partir desse mesmo concurso que o valor de arrecadação para cada sorteio passou a ser contabilizado. Em pouco mais de nove anos, a Mega Sena já arrecadou, até o momento, mais de R$ 42 bilhões (R$ 42.004.641.408,75).

Mas o valor do prêmio divulgado é sempre bem inferior ao da arrecadação. Isso acontece porque os valores destinados ao vencedor são apenas de 51% do total arrecadado e antes de entregar a bolada ao ganhador, a Caixa ainda paga 13,59% de Imposto de Renda. Logo, o sortudo leva apenas 31,71% da arrecadação. Os outros 49% são divididos pela Caixa entre administração, fundos de investimento e órgãos públicos. O banco fica com 10% como tarifa de administração, enquanto 9% é a comissão dos lotéricos. A CEF também aplica 1% no Fundo Desenvolvimento das Loterias.

Ainda do grande bolo, o Fies leva 7,76%. Os Comitês Olímpico e Paraolímpico Brasileiros ganham 1,7 e 1%, respectivamente. E enquanto o Fundo Penitenciário recebe 3,7% da arrecadação total, o Fundo Nacional da Cultura fica com apenas 3%. Por fim, a Caixa destina 18,10% para a Seguridade Social.

Abilhão

Quando se fala no apostador que ganhou sozinho na loteria, em Quixadá, logo vem a lembrança ao torcedor mais fervoroso do time da cidade, o “Canarinho do Sertão”, como o Quixadá Futebol Clube é conhecido por sua torcida. Poucos sabem sequer o nome do sortudo. Alguns o conhecem apenas por “Abilhão”, mas não hesitam em afirmar que com o dinheiro da loteria ele construiu o estádio municipal, que hoje recebe o seu nome – José Antônio de Lima - e o restante da fortuna gastou contratando jogadores.

A paixão pelo clube acabou rendendo a José Abílio, como era conhecido por herdar o sobrenome do pai, os exageros populares. A família não esconde isso, mas chegar ao ponto de insinuarem que perdeu todo o prêmio, de quase Cr$ 4 milhões da loteria esportiva para a paixão do futebol é um exagero. E assim, desde o recebimento da bolada milionária, vez por outra, algum jornal, revista ou televisão resolve tratá-lo como um fanático pelo time do coração que perdera "tudo" para o futebol.

José Abílio, torcedor símbolo do Quixadá, foi homenageado dando nome ao estádio da cidade: Abilhão

Contudo, a família até entende esses exageros, frutos da paixão de José Abílio que tanto ajudou o Quixadá Futebol Clube, seja com investimentos financeiros ou pela sua dedicação exagerada pelo clube do seu coração e pelo futebol loca, mas prefere evitar falar sobre o assunto.

Essa história começou a ganhar fama em 1977, quando uma filha de José Abílio, Maria José, naquela época com 14 anos, resolveu dá ao pai o palpite para o jogo da loteria esportiva, teste 325, e acertou o resultado dos 13 jogos. A aposta foi realizada no nome da esposa de José Abílio, Antônia Azevedo de Lima (falecida em fevereiro deste ano). O prêmio foi de Cr$ 3,7 milhões. A moeda da época era o cruzeiro. Outros quatro apostadores receberam o mesmo valor.

Exageros sobre milionário da loteria esportiva se tornaram populares em Quixadá

Torcida nos alambrados do Abilhão: cena corriqueira em dias de treino e jogos FOTO: Alex Pimentel

Todavia, o prêmio naquela época foi bastante significativo,realizando vários sonhos de José Abílio e da sua família. Ele ajudou a comunidade, doando ventiladores para a igreja matriz da cidade, a Catedral; comprou casas, terrenos e automóveis novos para seu uso e que muito serviram também para alimentar a paixão por seu time de coração. Os automóveis, muitas vezes eram utilizados para transportar o time aos jogos. Suas casas eram utilizadas como sede para manutenção do clube de futebol, lembrou Francisco José.

Além desses investimentos e de uma boa propriedade rural, José Abílio já mantinha uma casa lotérica na sua terra natal. Foi nela que a filha mais velha de outras quatro irmãs fez a aposta, mas a sorte mesmo foi da mãe, comenta o único filho homem, Francisco José, também conhecido como Zé do Abílio. Foi ela quem deu os palpites dos jogos dos quais não lembra, exceto o último, Brasil X Alemanha, um amistoso jogado no Brasil. O resultado foi empate. A seleção brasileira era favorita.

Clique na imagem para ampliar | FOTOS: Alex Pimentel

“Meu pai adorava futebol e era bastante atualizado no assunto. Ele ficava com os olhos grudados na televisão, assistindo uma partida enquanto acompanhava o desenrolar de outra partida com o ouvido grudado no radinho de pilha. Por esse motivo nem deu bola para o bilhete da minha irmã, mas ela e a minha mãe resolveram acreditar na sorte e jogaram. Se elas ficaram surpresas com o resultado, ele mais ainda”, acrescentou o filho.

Ele tinha sete anos de idade quando a família ganhou na loteria. O pai faleceu em 1993 e a mãe há seis meses. Hoje a casa lotérica não existe mais. Sobre a história do estádio José Antônio Abílio de Lima, o Abilhão, outro desportista apaixonado pelo “Quixinha”, Francisco Ferreira da Silva, o “Seu Pio”, contemporâneo do apostador sortudo e também dedicado ao time ao longo da sua história, explica que o parque esportivo da cidade foi construído na administração do prefeito José Linhares da Páscoa, entre 1967 e 1971. Quatro anos mais tarde, quando o empresário Aziz Baquit assumiu a prefeitura, substituindo o sucessor de José Linhares, as torres de iluminação foram instaladas. O nome do estádio teria sido uma homenagem ao torcedor ilustre.

Probabilidades

Francisco Xavier, professor de matemática, costuma jogar uma vez por mês e já ganhou algumas vezes utilizando a matemática pra fazer seus jogos FOTO: Thiago Gadelha

A maioria das pessoas acredita na fé ou na sorte para mudar de vida, como jogar sempre os mesmos números na esperança de que um dia sejam sorteados. Tem ainda os que são atingidos pela sorte sem nem esperar e comprando uma surpresinha (a aposta em que o computador escolhe os números) ficam milionários. Mas a chance de enriquecer da noite pro dia pode aumentar exponencialmente caso o jogador entenda um pouco de números.

Matemática!

Professor explica que a partir de uma função matemática utilizada na estatística é possível fazer previsões dos números sorteados

É o que acredita o professor Francisco Xavier. O matemático formado em licenciatura plena pela Universidade Estadual do Ceará (Uece) acredita na sorte, mas com outro nome. “Quem trabalha com números não vai chamar sorte, vai chamar de acaso e o acaso acontece”. Ele explica que usa uma função matemática muito usada na estatística para fazer previsões dos possíveis número sorteados. “Como o acaso sempre acontece no jogo, eu uso o que a gente chama de variável aleatória”. Ele mostra na tela do computador seis jogos de seis números que sua função matemática fez para o concurso 1.956, que sorteou as dezenas 05, 08, 20, 28, 40, 45. “Esses são os últimos que eu fiz, se você olhar eu acertei o 40 e o 45 em um jogo, o 28 em outro e o 20 e o 5 nesse aqui. Se eu tivesse jogado todos no mesmo cartão, teria feito a quina”, explica. Caso o matemático tivesse acertado os cinco números, teria levado um prêmio de R$ 32.189,04.

O professor explica que a paixão pelos números veio de criança. “Eu não fui um bom aluno de matemática porque as pessoas não ensinavam matemática corretamente no meu ponto de vista”. Ele acredita que ensinar a fazer contas não é ensinar matemática. “A matemática é o porquê das coisas, quando eu digo 00 = 1, qualquer livro diz isso, mas porque o resultado é um? Por que menos vezes menos é igual a mais? Foram todos esses porquês que me fizeram pesquisar a matemática além da universidade”. Foi nessa busca que Xavier começou a entender a teoria do jogo e se encantou.

Dezembro é o mês que recebe mais apostas, devido ao grande prêmio da Mega da Virada FOTO: Helene Santos

Apesar de entender muito de números, Xavier não é um grande jogador. “Eu jogo pouco, da última vez que eu acertei esse ano ganhei quase mil reais”. Ele pondera que o apostador não pode achar que o acaso vai acontecer todo dia. “Tem dias que eu amanheço com vontade de jogar, aí eu faço a combinação na variável e jogo”. O professor garante que joga pelo menos uma vez por mês. “Todo mês eu jogo, tem semana que eu jogo duas vezes”, contabiliza.

O matemático só joga na Mega-Sena, mas não gosta de fazer apostas grandes. “Eu só faço jogos de seis números! Se eu tiver de ganhar vai ser com uma aposta de seis dezenas dentro da minha teoria do jogo.” Ele conta que dificilmente faz seus jogos, pois tem preguiça de ir nas lotéricas. “A fila é muito grande, quem geralmente faz jogo pra mim é um senhor que trabalha aqui”. O professor revela ainda que já prometeu uma parte do prêmio para o colega. “Eu já disse pra ele que no dia que eu ganhar dou uma casa pra ele”.

Apesar de incentivar as pessoas a jogarem, Xavier alerta que a brincadeira com a sorte pode se tornar uma obsessão. “Se transformar numa rotina, vai ter problema com o jogo porque a frequência fica sendo quase que um vício. Eu sempre aconselho muito: jogue, mas sabendo jogar”.