Publicado em 19.06.2017

Na contagem regressiva para a chegada das férias escolares, os pontos turísticos do Ceará ficam cheios de turistas e nativos em busca de diversão em solo cearense. No entanto, não é só de passeios nos pontos tradicionais que vivem os turistas. O Estado tem cada vez mais conquistado um lugar no mapa de prática de esportes de aventura e recebido muitos visitantes por isso.

Segundo os dados mais recentes da Secretaria de Turismo do Governo do Estado do Ceará, no ano de 2015 o Ceará recebeu mais de 3,343 milhões de turistas, sendo 8,7% dos turistas para realizar o chamado turismo de esporte ou de aventura.

Seja na água, na areia ou no ar, o Ceará é lugar certo para se aventurar e ter contato direto com a natureza. Nas férias, as opções se expandem. Aproveitar o período de folga para viver momentos assim é uma forma de tomar aquela dose extra de adrenalina e de ganhar fôlego para continuar o ano. Conheça nesta edição do Diário Plus mais sobre os esportes de aventura no Estado e saiba que o Ceará vai muito além de uma rede, caranguejo e banho de mar.

Com o vento favorável

Os fortes ventos tornam o Ceará ponto propício para a prática de voo livre. Ao contrário do que muita gente pensa, realizar um voo é mais simples do que parece e quem pretende passar férias no Estado vai encontrar muitas opções de paisagens para sobrevoar, desde a encantadora praia de Canoa Quebrada até o belo relevo de Quixadá.

Das modalidades de voo livre no Estado, é mais intensa a prática de asa-delta e parapente.

Asa delta

É composta com uma armação metálica, coberta com um tecido especial. O piloto voa na posição horizontal (deitado de bruços). Requer uma rampa especialmente projetada para decolagem e um pouso suficientemente grande para sua descida.

Parapente

É feito completamente por um tecido especial, sem estrutura rígida. O piloto voa sentado em uma cadeira especialmente projetada. Não requer rampas especiais, podendo decolar de qualquer declive, e necessitando, assim, de pouco espaço para o pouso.

Não se sabe ao certo em que momento o homem passou a invejar os pássaros e sentiu o desejo de voar, mas no Ceará o homem criou asas, pelo menos pela história oficial, na década de 80. Isso aconteceu com o cearense Paulo Rocha que, mais precisamente em 1985, fundou a primeira escola de voo do Nordeste, em Maranguape.

As boas condições de vento no Estado fazem com que seja possível voar em qualquer época do ano. No entanto, o período entre agosto e dezembro é conhecido como "Temporada dos Ventos" e o Ceará fica ainda mais propício para a prática do voo livre.

Em Pacatuba, Ceará, é possível fazer voo duplo de parapente, além de aulas para aprender a voar sozinho Foto: Natinho Rodrigues

O sonho de voar esteve presente em boa parte da vida do empresário Demétrio Sousa (44). Há 12 anos ele tornou esse sonho realidade. Demétrio realizou aulas de voo e fez, do parapente, mais que um hobby, uma profissão. Junto do colega João Guy abriu a “Escolinha de Voo”, que é uma opção para quem está em Fortaleza e quer desfrutar da sensação de planar no ar, sem se distanciar muito da capital. O estabelecimento está localizado em Pacatuba (CE) e oferece voos duplos e aulas de voo individual de parapente há 7 anos.

Segundo João Guy, sócio de Demétrio e ex-presidente da Federação de Parapente e Asa- Delta do Ceará, além de conter condições favoráveis de vento, são inúmeras as possibilidades de lugares para se realizar o voo sobre o solo cearense. Existem rampas oficiais em várias cidades do Estado, como Pacatuba, Guaiúba, Acarape, Meruoca, Tianguá, Guaraciaba do Norte, Ipueiras, São Benedito, Ipu, Juazeiro do Norte, Assaré, Tauá, Quixadá, Juatama, Canoa Quebrada, Morro Branco, Icapuí, Uruburetama, Itapajé e Itapipoca. E até mesmo em lugares menos conhecidos pelo prática do voo, como Madalena, Canindé, Quixeramobim, Monsenhor Tabosa e Santana do Cariri.

Para fazer um voo duplo, ou seja, um voo panorâmico, aquele no qual se voa junto a um instrutor, não existe nenhum curso. "Basta que a pessoa busque algum piloto instrutor homologado para esse tipo de voo e haja o interesse em voar", conta João Guy.

É importante que, ao buscar esse tipo de modalidade, o indivíduo interessado procure um piloto instrutor homologado para esse tipo de voo. O ideal é encontrar um instrutor que esteja regular junto às instituições que regem o esporte no Ceará e no Brasil, como a Federação de Parapente e Asa-Delta do Ceará (Fepace) ou a Confederação Brasileira de Voo Livre (CBVL). “Nós sempre recomendamos que o interessado em realizar o voo livre solicite ao piloto que mostre sua habilitação ou consulte a entidade local, estadual ou nacional, antes de fazer seu voo”, reforça ainda João Guy, que foi presidente da Federação Cearense por oito anos.

"Não existe nenhum curso para quem quer apenas fazer um voo panorâmico. Basta que a pessoa busque algum piloto instrutor homologado para esse tipo de voo e que haja o interesse em voar", conta João Guy, um dos sócios da "Escolinha de Voo"

Para quem quer ir além, e sentir a sensação de voar sozinho, é possível ainda fazer curso de piloto. As aulas precisam ser realizadas com o acompanhamento de um instrutor homologado. “Para fazer um curso de piloto é essencial que o faça com um instrutor homologado para dar curso e não somente fazer voos duplos. Esse instrutor passará todos os quesitos básicos para o aluno, assim como dará meios de aprendizado nas leis de espaço aéreo, como nas normas de segurança que regem cada um desses esportes”, complementa Demétrio.

Surfe na areia

O surfe não só invadiu os mares do Ceará como também as dunas. Saindo dos mares, para terra firme, uma opção que tem crescido no Estado é o sandboard. O esporte consiste na prática de uma espécie de surfe, onde o praticante desce dunas de areia com a utilização de uma prancha. Ele é similar ao snowboard, só que trocando a neve pela areia e o frio pelo calor.

A denominação sandboard vem do inglês sand (que quer dizer areia) e board (que significa prancha). Para quem quer utilizar a ida na praia para se aventurar, mas não quer entrar no mar, o sandboard é uma ótima opção. O esporte surgiu no Brasil e é relativamente recente: foi inventado em 1986, em Florianópolis. A ideia veio de surfistas que procuravam algo para fazer quando as ondas não estavam boas para a prática do surfe.

Clenilson Silva é atleta de sandboard e dá aulas da modalidade em Sabiaguaba (CE). Ele conta que o sandboard é praticado preferencialmente no segundo semestre do ano. “O sandboard até pode ser praticado o ano todo, mas não pode estar chovendo muito naquele período. A melhor época para praticar o sand é sempre o período entre junho e dezembro, uma vez que nesse período há condições mais favoráveis”, conta o atleta.

Nas demais épocas, especificamente entre janeiro e maio, a prática pode ficar um pouco comprometida dependendo da quantidade de chuvas que o lugar receba, já que as dunas podem ficar mais úmidas e isso prejudica a aderência do contato da prancha com a areia.

“É importante sempre utilizar equipamentos de segurança, como o capacete, e nunca colocar o corpo pra frente, pois a prancha pode cair e o praticante se acidentar”,
reforça Clenilson Silva, atleta de sandboard

Para praticar é necessário, além da prancha, equipamento de segurança adequado. “É importante sempre utilizar equipamentos de segurança, como o capacete, e nunca colocar o corpo pra frente, pois a prancha pode cair e o praticante se acidentar”.

Além disso, os profissionais da área recomendam que as primeiras práticas de sandboard, tenham a tutoria de um professor da área para que tudo ocorra de forma tranquila. “É recomendável que aquela pessoa que nunca praticou o sand e quer fazer isso como atividade de férias, faça pelo menos 3 aulas com um instrutor já capacitado, para que o praticante entenda os cuidados de segurança e pegue o jeito de praticar o esporte”. Uma aula de sandboard pode variar entre R$ 40 e R$ 100.

O sandboard entra na lista de atividades que podem ser praticadas pela família toda, já que, seguindo as regras de segurança, desde os mais novos até os mais velhos, todos podem aproveitar o surfe nas dunas.

Trilhas de aventura

Uma das melhores formas de entrar em contato com a natureza é se aventurando pelas trilhas nas matas do Ceará. Caminhar entrega grande diversidade de fauna e flora e descobrir bons lugares para banho são opções que se desfruta ao realizar uma trilha em solo cearense.

O grupo Bichos do Mato se reúne para realizar trilhas no Estado Foto: Bichos do Mato

De fato, das várias modalidades de aventura essa é uma das mais diversas, porque o aventureiro tanto pode realizar pequenas trilhas quanto maiores, que percorrem mais de 10 km e exigem muito do condicionamento físico. É possível desbravar, desde o sertão, com sua bela paisagem, até as matas das serras, que possuem temperaturas mais amenas no Estado.

A trilha é mais uma atividade de aventura que tem a possibilidade de ser realizada o ano todo. Em épocas de seca, a opção é buscar por lugares com mirantes. Em épocas de chuva, as trilhas que tenham algum tipo de local para banho, como rio e cachoeira são destino certo.

De acordo com Michel Calvet (46), criador e guia principal do grupo de trilhas Bichos do Mato, no Estado há vários lugares para serem explorados. Oficialmente se conhece o Parque Nacional de Ubajara e a Reserva de caatinga na Serra das Almas, mas o grupo costuma explorar outras áreas. O grupo faz trilhas tanto de um único dia, quanto de mais de um, realizando assim acampamentos, em geral, em propriedades privadas.

Acampamento em trilha do grupo Bichos do Mato Foto: Bichos do Mato

Uma das vantagens desse tipo de aventura é a presença constante do fator surpresa pois, segundo Michel, sempre que o grupo se aventura por um lugar novo, se faz muitas descobertas. “O bacana é que em qualquer trilha vai ter coisas diferentes. Você vai desbravando lugares que nem imagina que existem no Ceará, encontra grutas, mirantes, cachoeiras, que a maioria das pessoas nem sabe que existem”, conta.

O grupo Bichos do Mato reúne até 30 pessoas para realizar trilhas. Para participar basta acessar o site e se inscrever. Quando houver trilha, o grupo avisa com antecedência.

Em águas calmas

Canoa havaiana promete trazer diversão para quem frequenta o mar de Fortaleza Foto: Kid Júnior

Para as próximas férias no Ceará a grande novidade é a chamada canoa havaiana ou canoa polinésia. O equipamento chegou há pouco no Estado e promete proporcionar momentos de diversão na praia cearense.

Não é qualquer canoa que pode ser chamada assim. A canoa havaiana ou polinésia (ainda conhecida como wa’a) possui essencialmente três partes: o casco, onde ficam os remadores; o flutuador, que dá estabilidade; e os braços, que unem as duas peças anteriores.

A canoa havaiana é composta por casco, flutuador e braços Foto: Kid Júnior

No Ceará, é possível praticar em canoas que podem conter 1, 2 ou até 4 pessoas. A última ótima opção é ideal para quem quer praticar o esporte junto dos amigos e da família. Crianças a partir de 8 anos já podem praticar e quem fizer terá a oportunidade de não só curtir um esporte, como também de reviver uma tradição.

A canoa polinésia é uma atividade milenar que carrega consigo muita história. A wa’a é para o povo polinésio mais que um transporte, pois ela representa o espirito desbravador de diversas tribos do país que utilizavam a canoa para “conquistar novos mares”.

Aluísio Arcela trouxe a canoa polinésia para o Estado e é atleta representando o Ceará Foto: Kid Júnior

Esse tipo de canoa chegou no Estado através do paraibano Aluísio Arcela (39), que morava em Vitória, no Espiríto Santo, e que há cerca de três anos resolveu fazer do Ceará o seu lar. Ao chegar aqui, Aluísio ficou surpreso por não existirem canoas havaianas. Hoje, o paraibano possui cinco canoas e está esperando a chegada de mais quatro. Ele trabalha com isso e oferece aulas e passeios no fim da Avenida Beira Mar, no porto do Mucuripe.

O esporte pode ser praticado o ano todo, mas em dias de chuva a dica de quem pratica é evitar, por conta da incidência de raios. “A canoa havaiana é para todos, ela é um esporte de várias faces, trabalha o coletivo e o individual”. Aluísio faz passeios também com pessoas que tenham deficiência. “Eu tenho uma canoa que não vira, que pode ser aproveitada por todos. A canoa é para todos, eu quero difundir isso no Estado”.

No verde dos mares

Windsurf preenche a paisagem do mar do Mucuripe, em Fortaleza Foto: Kid Júnior

Observar. Ato que Kong aprendeu ainda novo e que lhe levou longe. Kong Ferreira nasceu Édson Ferreira da Silva e é importante figura no cenário do windsurf cearense, esporte o qual lhe rendeu o apelido. Aos 14 anos, como guardador de carros na famosa Avenida Beira Mar, Kong viu um francês de nome Dominique manejar uma vela no mar verde da Capital Cearense. Da observação, surgiu o interesse e, depois da primeira oportunidade de praticar, ele não quis mais parar. O windsurf transformou a vida de Kong. De lá para cá são 36 anos de relação intensa com a vela e com o mar.

Da paixão pelo mar veio a profissão. Kong é dono da tradicional escola Brothers Windsurf que possui passeios e aulas de windsurf, stand up padle, kayak, entre outros esportes náuticos. A escola de Kong já formou nomes que foram grandes campeões mundiais e nacionais, como Mathias Pinheiro, Mônica Veras, Marcílio Brown e Nelson Brown.

Para quem quer se aventurar no windsurf, a escola de Kong oferece aulas. A prática do esporte proporciona um contato único com a praia e a oportunidade de vislumbrar de dentro do mar o pôr do sol cearense.

A prática do windsurf é muito comum nas praias do Estado Foto: Kid Júnior

O Ceará está para os ventos como o Havaí está para as ondas dos mares e, por isso, o Estado é conhecido pelos praticantes como o "Havaí dos ventos". Com rajadas de vento que chegam a até a 60km/h, segundo a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), em períodos de pico, como os meses de agosto e setembro, não é difícil ir a uma praia cearense e ver alguém praticando o windsurf.

Para quem quer se aventurar e começar a praticar, é importante saber que ele é considerado um dos esportes náuticos mais aeróbicos e pode trazer muitos benefícios físicos. Porém é importante entender que o windsurf é um esporte radical e como tal, precisa ser praticado com segurança. Iniciantes devem procurar pessoas habilitadas para ministrarem as aulas.