Idade é uma questão de ponto de vista. Homens e mulheres que chegam aos 50 anos nos dias atuais em nada lembram as pessoas da década de 70. Com mais saúde e dinheiro no bolso e menos responsabilidades, usam a nova fase para se redescobrir em novos hobbies e enfrentar desafios.
O médico geriatra e professor da disciplina de Geriatria da Universidade Federal do Ceará (UFC) Charlys Barbosa Nogueira ressalta que, décadas atrás, uma pessoa com 50 anos já era considerada idosa devido a características como sedentarismo e dieta não adequada. No entanto, o cenário atual é outro. "Hoje as pessoas com 50 anos têm vida ativa, trabalham, têm suas responsabilidades e cuidam dos filhos. Eles são cada vez mais presentes em ambulatórios de geriatria em busca de prevenção e preocupados em envelhecer com saúde", ressalta ele, que também é doutor em Ciências Médicas pela USP/Ribeirão Preto.
"O Brasil passa hoje por um processo chamado transição demográfica. Diminuíram os nascimentos e, ao mesmo tempo, a mortalidade de pessoas idosas também diminuiu. Antigamente se vivia, em média, 55 anos. Hoje, a vida média do brasileiro é de 74 a 76 anos. No Brasil, 10% da população do País tem 60 anos ou mais. Esse número também vale para o estado do Ceará, é o mesmo percentual", acrescenta.
Em poucas décadas, a população ativa do País dobrou. Em 50 anos, a expectativa de vida do brasileiro aumentou de 48 para 75 anos, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A perspectiva é de que a vida se alongue ainda mais. Em 2050, viveremos, em média, até 80 anos.
Ao se afastar da morte, os cinquentenários se distanciaram também da velhice. Eles exibem uma disposição física, mental e financeira invejáveis. Não se enxergam como velhos e este fator é fundamental para que possam ter um sentimento de bem-estar. O médico geriatra explica que, no geral, ainda existe um sentimento pessimista em relação ao envelhecimento, mas, aos poucos, percebe uma mudança de atitude.
"Vejo que as pessoas veem o envelhecimento de uma forma mais positiva, natural. Elas estão entendendo que é um processo que pode trazer limitações, mas faz parte da vida, assim como o nascimento, infância, adolescência, etc. Costumo dizer que brigar com os anos é uma briga perdida. Na verdade, você está brigando com uma lei natural, que tem suas belezas, e temos que aproveitá-las. Com a idade vem também mais sabedoria e crescimento espiritual, qualidades que não temos quando somos jovens".
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma pessoa é considerada idosa a partir de 60 anos, em países subdesenvolvidos, e a partir de 65 em países desenvolvidos. O que Charlys indica é que os brasileiros procurem geriatras a partir dos 40 anos com o intuito de prevenir doenças. Já se tem provas, através de pesquisas, que a idade não representa necessariamente uma diminuição da saúde. Uma pesquisa da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia, com quatro mil homens e mulheres, descobriu que alguém de 50 anos que se exercita regularmente pode estar mais em forma que um jovem de 20 anos sedentário.
"Cada dólar gasto com prevenção são oito dólares economizados com tratamentos de enfermidades. É importante que as pessoas saibam o quão importante é tratar doenças o mais cedo possível para envelhecer com qualidade. Nós vemos cada vez mais idosos ativos na sociedade. Em países como o Japão, por exemplo, eles são importantes fontes de sabedoria. Temos que aprender a ver os idosos como espelhos de nós mesmos. Se passarmos a vê-los dessa forma, certamente encararemos o envelhecimento melhor e trataremos o idoso de forma mais respeitosa", completa o médico.
Tereza Amaral, de 53 anos, é mãe da influenciadora digital e cantora cearense Carla Amaral. Influenciada pela filha, que coleciona mais de 43 mil seguidores no Instagram, decidiu criar um perfil na rede social intitulado @depoisdos50. Ela não posta com tanta frequência, no entanto é figura cativa nos "stories" publicados por Carla e acabou se tornando conhecida dos fãs da blogueira.

Um verdadeiro encontro intergeracional. E assim, a mãe aprende com a filha a ser um pouquinho celebridade da internet. E a cria aprende com a genitora, cheia de experiência e adepta ao estilo saudável. Tereza confessa que se diverte com as redes sociais, posta um pouquinho do seu dia a dia, treinos e também as produções diárias. Porque não basta ser mãe de blogueira, precisa participar. "Quem teve a ideia foi minha filha. Acabei aceitando e adorei. Na realidade, no Instagram eu posto pouquíssimo. Eu não sou blogueira, não vivo disso, mas curto", conta.

Cuidar é uma vocação de Tereza. Ela diz orgulhosa que sua rotina é tomar conta do marido, filhos e, claro, dela mesma. Tem um dia a dia ativo, é seletiva com a alimentação e malha religiosamente. "Como eu me cuido. Malho há uns 15 anos. Acho que se estivesse começado há mais tempo estaria melhor, mas nunca é tarde pra começar. Malho de segunda a quinta com o marido e o filho. Estou tentando levar a Carla. A academia me faz muito bem. Não sei o que seria de mim sem ela. Às vezes eu vou cansada, com um pouquinho de dor de cabeça, mas quando chego lá é um prazer enorme. E a gente tem que se cuidar pra chegar à velhice bem. Aliás, para você chegar bem depois dos 50, se não se cuidar, não chega bem de jeito nenhum", alerta.
E o chegar bem de Tereza vai muito além do físico. Ela reforça que os 50 anos trouxeram também uma maturidade para encarar a vida com mais leveza. "Meu filho costuma dizer que eu sou como vinho. Quanto mais o tempo passa, melhor eu fico. E eu vou ser sincera, eu me gosto muito mais hoje do que quando eu tinha 30 anos, em todos os sentidos. Com certeza a mulher hoje com 50 vive muito melhor, é mais experiente. A gente amadurece mesmo. Passa a ver as coisas de outro modo. Quando você está bem por dentro, tudo vai bem. Eu me considero uma pessoa feliz, de alto astral e isso faz com que eu esteja sempre bem".
O enxergar diferente fez com que ela experimentasse o mundo da filha famosa, mas mantivesse seus próprios desejos. Não se deslumbrou, se divertiu. Não rejeitou, vivenciou. Mas, sobretudo, percebeu que seus desejos eram outros. "Quando ela chega nos lugares as pessoas perguntam por mim. E quando eu chego com ela, eles dizem que curtem. Me reconhecem por ser a mãe da Carla e gostam demais, mas eu não sou influenciadora digital. Prefiro apenas fazer as brincadeiras com ela", justifica.