Por pouco, o empresário cearense Gilberto Costa não entrou nas estatísticas no Inpe. Em 2008, ele foi atingido pela descarga elétrica de um raio que caiu próximo a ele na fazenda de sua família no município de Itapiúna, a 200 km de Fortaleza, mas sobreviveu.
Gilberto, então com 45 anos, estava com a família e alguns amigos na varanda da casa descansando após o almoço quando, ao perceber a chuva forte que começava a cair, decidiu, com um amigo e o filho dele, tomar banho de chuva. “Não estava caindo raio e nem dando trovão, então nós fomos tomar banho de chuva próximo a um açude que tem ao lado da fazenda. Saímos correndo em cima da parede do açude e de repente aconteceu. Eu não me lembro de nada, só sei porque me contaram”, relatou o empresário.
O raio caiu em uma árvore que estava perto da parede do açude e ele e o amigo acabaram recebendo a descarga. “Eu caí desmaiado, com os músculos todos contraídos e tive uma parada respiratória. Com a queda, cortei o rosto e as mãos”, relata. Uma amiga viu de longe que alguém tinha caído logo depois que viram o clarão do raio perto da casa e todos correram para onde os três estavam. “Meu amigo ficou desacordado por pouco tempo e logo depois despertou, mas ficou meio “grogue”. E o filho dele não sentiu nada. Mas eu continuava lá, sem respirar”. O filho mais velho de Gilberto tinha acabado de chegar de um intercâmbio no Canadá, onde tinha tido algumas aulas sobre primeiros socorros, e usou tudo o que sabia na tentativa de salvar o pai. O garoto, com 19 anos, fez massagem cardíaca e respiração boca a boca em Gilberto, que lentamente voltou a respirar.
“Me levaram de carro para o hospital da cidade e, no caminho, eu acordei. Não lembrava de nada do que tinha acontecido e estava tendo muitas contrações musculares involuntárias, ficava me debatendo no carro”, relatou. O empresário foi encaminhado em um helicóptero da Coordenadoria Integrada de Operações Aéreas (Ciopaer) ao Instituto Dr. José Frota (IJF), em Fortaleza, onde recebeu atendimento médico e ficou internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
Depois de poucos dias de atendimento no IJF e em um hospital particular de Fortaleza, Gilberto recebeu alta sem nenhuma sequela. “Foi um milagre mesmo. Depois eu soube que várias tomadas da casa da fazenda pegaram fogo com o raio. Um cavalo que estava preso em uma cerca, a mais de 300 metros de onde eu estava caiu e passou várias horas para conseguir levantar de novo. E eu fiquei vivo e sem sequelas”, finalizou, dizendo que depois disso, sempre que começa a chover forte os filhos e a esposa ligam para ele para saber onde Gilberto está. “Acho que foi ainda mais traumático para eles do que para mim. Minha família viu tudo o que aconteceu e eu não”.
A história do servidor público do Inpe, José Vicente Moreira com a descarga elétrica recebida por ele não é só de susto e tensão. Em 1997, José Vicente, natural de São José dos Campos (SP), voltava do trabalho para casa de bicicleta quando, em uma tarde chuvosa, uma descarga elétrica o atingiu. O raio caiu em uma árvore, passou para um cerca e, em seguida, atingiu o corpo dele. A bicicleta do servidor se partiu ao meio e ele foi arremessado a 10 metros de distância.
“Eu caí desmaiado em uma vala. Pouco tempo depois passou um ônibus cheio de trabalhadores de uma fábrica e o motorista resolveu parar. Uma moça desceu do ônibus e me reconheceu. Era minha vizinha de frente. A gente nunca tinha se falado, mas ela me reconheceu e chamou a ambulância”, relatou Moreira, 52, que passou três dias desacordado. Com a descarga e a queda, a perna de José Vicente foi fraturada em várias partes e foram necessários sete pinos e duas placas para reconstruí-la.
A vizinha passou a visitá-lo no hospital, depois em casa e anos depois se tornou sua esposa, com quem hoje tem duas filhas e dois netos.