Diário do Nordeste Plus

Sex shop: novo olhar

Com um crescimento de 8% ao ano, o mercado de produtos eróticos vem se reformulando, ganhando um novo perfil de consumidores e produtos

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Texto: Bruna Salmito

O mercado de produtos eróticos vem crescendo em relação a outros segmentos no País. De acordo com a Associação Brasileira de Empresas do Mercado Erótico (Abeme), nos últimos 4 anos, o menor índice de crescimento foi de 8%. Parte do registrado é influenciado por uma mudança no perfil desses consumidores, que passaram a entender e aceitar o uso dos produtos oferecidos. “A quebra de preconceitos ou mesmo a diminuição do desconforto de permanecer numa loja cercada de itens para o sexo é visível, muito devido à mudança de perfil de consumo destes produtos no País, tendo na mulher o grande reflexo desta transformação”, destaca Paula Aguiar, presidente da Abeme.

*Dados referentes a 2014, de acordo com a Abeme

80 mil
vendedores domiciliares

1 mil
lojas virtuais

11 mil
pontos de venda físicos

As mudanças não se restringem apenas ao perfil dos consumidores. As lojas de produtos eróticos também se reinventaram. Perderam o ar de locais secretos, reservados e voltados exclusivamente para o público masculino, como o Complement, o primeiro sex shop do País. Ele foi inaugurado em 1978 por um empresário que começou a trazer produtos eróticos da Europa. A rede de lojas chegou a ter 22 unidades, mas viu-se obrigada a fechar as portas doze anos depois, uma previsão de que o perfil, antes completamente masculino e "misterioso", seria completamente alterado.

Margarete Ficheira - Ginecologista e Sexóloga. Foto: Daniel Aragão

De acordo com a ginecologista e sexóloga Margarete Ficheira, as principais mudanças no perfil dessas lojas vem acontecendo nos últimos 10 anos. "O perfil do consumidor, do frequentador do sex shop tem variado muito. Antigamente eram as pessoas mais jovens, principalmente os homens, e hoje o que a gente percebe é que mulheres, principalmente mais velhas, estão frequentando muito em busca do próprio prazer! Eram locais discretos, que não ficavam em ruas destacadas e mantinham certo mistério. Na verdade, muitos deles chegavam a ser escuros, e tinham cabines para os homens se encontrarem com as conhecidas dominadoras, mulheres com quem eles tinham relações mais "profundas". Outra coisa importante de ser destacada é que os homens frequentavam esses locais para satisfazerem a si próprios, e não às suas mulheres, um perfil completamente diferente do que vemos nesses últimos 10 anos", destaca Ficheira.

“Nós hoje somos um mercado onde as mulheres representam boa parte do consumo, onde pessoas de várias idades, dos 20, acima dos 40, 60 anos estão consumindo e gerando um faturamento de mais de R$ 1 bilhão por ano” Paula Aguiar

Acompanhando a mudança de cenário, foi nos últimos anos que esse mercado realmente começou a florescer. Segundo a Abeme, 80% das empresas do setor foram criadas nos anos 2000, prova de que o segmento não estagnou e acompanhou as mudanças. Em 2011, o crescimento registrado foi de 18,5%, puxado pelo sucesso de filmes como “De Pernas Para o Ar”, protagonizado por Ingrid Guimarães, no papel de uma vendedora de produtos eróticos. “Cinquenta Tons de Cinza” e outras produções também foram responsáveis pelo aumento no consumo em 2012. “Nós hoje somos um mercado onde as mulheres representam boa parte do consumo, onde pessoas de várias idades, dos 20, acima dos 40, 60 anos estão consumindo e gerando um faturamento de mais de R$ 1 bilhão por ano. Geramos 125 mil empregos diretos e indiretos, temos mais de 30 fornecedores nacionais e por aí vai. A previsão de crescimento para 2015 é de dois dígitos, e um faturamento de R$ 1,75 bilhão”, destaca Paula Aguiar.

Novos perfis

Loja Mistery Club. Foto: Daniel Aragão

Voltada principalmente para o público feminino, a loja de produtos sexuais Mistery Club acompanhou a mudança de perfil. A loja é uma das mais antigas da cidade e se destaca no segmento local. O local, que possui entrada compartilhada com uma confecção de lingerie e roupas para dormir, oferecia aos clientes máscaras para quem não se sentia à vontade em sex shops. “Logo quando começamos nós oferecíamos aos consumidores máscaras para que as pessoas se sentissem mais à vontade. Foi caindo em desuso e hoje não temos mais. Outro ponto é que muitas pessoas entravam aqui pela loja de lingerie e não diretamente pela entrada da Mistery. Nesses mais de 10 anos de mercado, acompanhamos que o perfil dos consumidores tem mudado também, homens, mulheres, jovens, pessoas mais velhas, não tem mais isso”, destaca Vivian Fermanian, diretora de marketing do grupo Tentacion.

Localizado na Av. Washington Soares, o Doce e Pimenta Sex Shop também reflete bem essa mudança de perfil. A loja em nada se assemelha aos tradicionais sex shops. O ambiente é claro, os produtos ficam expostos e o consumidor fica à vontade para decidir o que levar. "Procuramos deixar o nosso cliente à vontade e sem constrangimentos. Ele está em uma loja como qualquer outra, à procura de um produto para si ou para alguém. Estamos trabalhando nesse mercado há oito anos e percebemos mudanças no perfil dos nossos clientes, por isso temos que nos adaptar sempre”, destaca Wanessa Pessoa Onofre, proprietária da loja.

Doce e Pimenta Sex Shop. Foto: Daniel Aragão

Segundo a empresária, as mulheres estão bem mais ativas e procuram por produtos diferenciados. Os casais também são outra grande parcela do público. “Você observa que hoje em dia os produtos estão muito mais sofisticados. Temos vibradores femininos que em nada se assemelham ao orgão sexual masculino, mas que são extremamente eficazes para o prazer. Outros brinquedos podem ser usados tanto por solteiros quanto por casais. Outros são específicos para os casais. E o melhor é que os parceiros brincam, na hora da relação. Um controla a velocidade. O homem fica bem contente, já que ele pode se sentir no controle. Há também os tradicionais, como óleos, bolinhas para pompoarismo, velas para massagem. Tudo vai depender da criatividade de quem está comprando. E uma coisa é certa, não existe velhice na hora de se satisfazer sexualmente", destaca Wanessa Onofre.

Consumo por Região

Consumo de produtos eróticos por região no Brasil
Nordeste
Norte
Centro-oeste
Sudeste
Sul

Consumo por Gênero

mulher homem

Em lojas físicas

Em lojas virtuais

Venda domiciliar

Em média , os brasileiros gastam de R$ 80 a R$ 280 em produtos eróticos

*Dados referentes a 2014, de acordo com a Abeme
Ana Paula Sabino Vieira. Foto: Natinho Rodrigues

Consumidora de produtos eróticos, Ana Paula Sabino Vieira se enquadra nesse novo perfil de consumo. Aos 44 anos, ela ressalta a importância dos brinquedos e acessórios para o relacionamento com o marido.

"Nós já somos casados há bastante tempo. Então, sempre compro produtos para apimentar a relação, para dar uma levantada e não deixar cair na rotina. Não tenho vergonha de comprar, nunca tive. Antes tinha muito mais preconceito. Se escutavam falando que eu ia no sex shop ou ia ver produtos na casa de uma amiga, já me olhava estranho! Hoje não, percebo que as pessoas estão muito mais abertas e percebem como esses acessórios podem ser importantes para a vida sexual do casal ou dela mesmo", destaca Ana Paula.

Produtos mais vendidos no sex shop

Dados obtidos por empresários do ramo local.

Entre os produtos mais consumidos por Ana Paula estão os óleos e cremes. Além de ajudar na hora H, são refrescantes e ajudam a manter o clima de sedução. “O meu marido adora. Sempre que eu venho com novidade ele gosta de experimentar. Para mim, os cremes são os fundamentais. Lógico que consumimos outros produtos, mas os óleos são maravilhosos”, ressalta.

Novos mercados

Para aproximar o mundo evangélico do mercado erótico, a Abeme (Associação Brasileira das Empresas do Mercado Erótico e Sensual) lançou o livro "Guia Gospel para Sexshops". O Projeto Gospel tem, segundo Paula Aguiar, presidente da Abeme e uma das responsáveis pela criação do guia, que ensina aos evangélicos os prazeres proporcionados pelos acessórios e cosméticos sensuais sem ofender as doutrinas. "A ideia é que quem trabalha com isso saiba quais são as necessidades e preferências do público gospel. Entender que existem crenças que não podem ser quebradas. Por exemplo, explicamos que fiéis de algumas religiões evangélicas não usam lingerie vermelha, porque entendem que a cor tem ligação com o mal. A partir disso, sabe-se que não é bom oferecer esse tipo de produto", afirma.

De acordo com Paula, outro público que a associação tem investido em brinquedos específicos é o LGBT. Alguns acessórios são confeccionados exclusivamente para esse perfil. “Os itens mais procurados para esse público são os plugs, cremes funcionais, cintos, próteses, óleos anestésicos e hot ball”, afirma Paula.

Bem-estar

De acordo com a sexóloga Margarete, brincadeiras e fantasias são importantes para qualquer relacionamento." É importante lembrar que o sexo é fundamental para qualquer relacionamento. E que não existe idade para ser feito. A sexualidade começa no nascimento e só finda com a morte. Se a busca do seu prazer e da sua sexualidade mais ativa dependem uma ida a uma loja, deve ser algo decidido pela própria pessoa, e hoje mulheres com mais de 60 anos, mulheres jovens, de todas as idades, vão em busca próprio prazer. Hoje se busca viver bem. Casais de qualquer religião, etnias diferentes também buscam se encontrar sexualmente", destaca.

A sexóloga destaca que, apesar de bastante disseminado, o assunto ainda deixa muitas pessoas com certo desconforto. “ Muitas pessoas se sentem bastante inibidas e têm medo do que vão pensar delas por estarem ali. Não precisa se justificar. As pessoas que estão ali estão felizes por você comprar. Quem tem vergonha de ir ao sex shop, pode tentar ir acompanhado por uma amiga, alguém em que confie. Não precisa comprar nada na primeira vez, fica à vontade. Eu acredito que ali não existe julgamento, o julgamento está dentro das pessoas”, destaca a sexóloga.

Comprando na internet

Apesar de relativamente recente, o mercado virtual de sex shops também vem se destacando. Dos canais de vendas utilizados pelo setor, os que têm mais crescimento é o via internet, que cresceu 52%, de acordo com a Abeme. Após problemas pessoais, Elizabete Rodrigues Andrade decidiu mudar a plataforma do seu negócio. O Via Libido, antes localizado na Av. Abolição, passou a ser uma loja somente virtual em 2012. Hoje, o site já tem 15 anos e já possui clientes fiéis. “É muito bacana. Nós fizemos o caminho inverso. O showroom é dentro de casa. Vendemos nossos produtos pelo site, pelas redes sociais e também em consultoria”, destaca Elizabete Andrade.

Elizabete Rodrigues, proprietária da loja virtual Via Libido. Foto: Natinho Rodrigues

De acordo com a empresária, muitas pessoas se sentem bem mais à vontade comprando pela internet, uma das vantagens da loja virtual. “Apesar de percebemos que as pessoas estão bem mais abertas ao assunto, algumas pessoas preferem comprar pela internet, já que ficam intimidadas”, destaca.