Quem vê as portas e janelas cobertas por grades de ferro no Conjunto Prefeito José Walter, periferia de Fortaleza, não imagina que são tudo o que resta de uma série de acontecimentos terríveis no fim dos anos 1980. Lá agiu o corta bundas, um maniaco psicopata que atacava mulheres (adultas e crianças). Ele não matava, não roubava e nem abusava sexualmente das suas vítimas, apenas fazia um corte profundo com navalha, estilete ou bisturi na região das nádegas.
Foram três anos de pavor no bairro, entre 1984 e 1987, ninguém conseguia descobrir a verdadeira identidade do criminoso. O maníaco do José Walter ganhou ares de lenda urbana, ao ponto de muitas pessoas acreditarem que ele nem mesmo existiu. Mas quem morava na área, e principalmente quem teve as suas casas invadidas pelo corta bundas, lembra muito bem de tudo o que aconteceu.
A aposentada Raimunda Alves, 82, se viu aperreada. Mãe de oito filhos, cinco deles meninas, ela tinha que enfrentar o desafio de trabalhar fora de casa e cuidar das crianças. “A preocupação era com a segurança das meninas. As mulheres da rua se juntavam para preparar os lanches das equipes de homens que ficavam de plantão, se revezando para pegar o corta bunda no ato”, conta. “O danado parecia que tinha um pacto com o demônio. Não se ouvia barulho, nem as mulheres percebiam ele se aproximar. Nenhuma delas conseguiu ver o rosto dele”, acrescenta.
O corta bundas deu muito trabalho para a polícia que não conseguia pegá-lo e muito menos identificar o agressor. Causou revolta! Os homens do bairro se juntaram em equipes para vigiar as noites do José Walter. Nos portões e janelas das casas, panelas e sinos sensíveis a qualquer movimentação. Tudo em vão, foram mais de 70 mulheres atacadas, mas apenas três formalizaram a queixa e constaram no processo contra ele.
Dentre elas, Socorro Alves, uma das filhas de D. Raimunda. No ano de 1984, ela acabara de completar 19 anos e, estava no quarto cuidando da sobrinha quando dormiu. “Eu senti apenas um ardor. Achei que fosse aquelas lagartas de fogo, mas quando olhei para minha perna o sangue estava escorrendo. No hospital, o golpe que não conseguiu ser profundo por proteção da saia, foi extenso e levou 250 pontos.
Apenas em 6 de fevereiro de 1987, a policia consegue capturar Francisco Evandro Oliveira da Silva de 26 anos. Preso e reconhecido, Evandro confessou os crimes e acabou assassinado no Instituto Presídio Professor Olavo Oliveira pelos próprios presos.