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Texto: Jacqueline Nóbrega Publicado em 27.11.2017

Muito mais do que apenas postar fotos de suas rotinas atarefadas, personalidades do Ceará usam suas redes sociais, a exemplo do Instagram e YouTube, como plataforma para fazer com que seus seguidores reflitam acerca de temas religiosos, amor próprio, casamento cedo e submissão. O "título" influenciadores digitais de Deus não basta. Roberta Tenório, de 30 anos, por exemplo, explica que a ideia é disseminar uma mensagem que transforme as pessoas de dentro para fora. "Acredito que é exatamente isso que Deus faz", pontua. Mais de 10 mil seguidores a acompanham em seu perfil. São Stories com mensagens de reflexão, frases inspiradoras e uma rotina que mostra que ela é gente como a gente.

Roberta atua na área pastoral cristã, produz conteúdo para o YouTube e ainda administra uma lojinha online. Criar uma conta na rede social de fotografia foi uma extensão de quem ela é. "O intuito foi partilhar minha vida real, meus desafios, algumas alegrias e também reflexões de uma mente inquieta e observadora. E essa paixão foi intensificada por observar muito as referências que os adolescentes e jovens têm hoje, que são os influenciadores digitais. Penso que precisamos ampliar o conteúdo para um pouco de 'realidade', de medos, frustrações", explica.

Além das reflexões, Roberta gosta de mostrar sua rotina de mulher real, o que aproxima de seu público FOTO: Reprodução / Instagram
Meu objetivo é deixar a marca no mundo daquilo que de fato preencheu e transformou o meu viver
Roberta Tenório

Por não gostar de rótulos, frisa que todos os seguidores são bem-vindos, independente de religião. "Basta que tenha afinidade com o que se passa no meu coração e com o que consigo externar das mais variadas formas". Ela explica que por ser alguém vulnerável, as pessoas que a acompanham conseguem sentir uma certa profundidade. "Pelo menos é uma das coisas que me dizem muito. Não tem um assunto específico (que toque seus seguidores), mas, sim, a forma como eu me comunico com os corações das pessoas. São assuntos que fazem parte do ser humano. Muito de tudo que aprendo, medito e falo são ensinamentos que aprendi e aprendo na minha jornada com Jesus".

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O processo de inspiração para produzir conteúdo para suas plataformas funciona da seguinte forma: Roberta amadurece suas reflexões e sempre tenta fazer uma ligação com alguma fonte, como um livro e/ou notícia. O feedback que recebe de quem a acompanha diariamente, ainda segundo a influencer, é seu combustível para criar. "Comunico sempre para mim mesma: 'Roberta, se te faz bem, compartilha'. Recebo mensagens lindíssimas e muito profundas".

Roberta garante que não se preocupa em seguir uma linha de raciocínio para que seu feed seja considerado esteticamente bonito pelos seguidores. "Eu gosto de passar sentimento, verdade. Se a estética agrada também aos olhos de quem vê, ótimo".

Questionada sobre quando iniciou sua relação com a religião, Roberta é honesta. Não consegue enxergar como religião e, sim, estilo de vida. "Acredito ser um estilo de vida de bondade, propósito, mudança interior e tudo o mais que Jesus é capaz de proporcionar. Desde cedo eu sempre acreditei que existia algo maior que eu. E, aos 17 anos, considero ter tido a minha primeira experiência com Jesus. De lá pra cá, esse sentimento de pertencimento só aumenta. A transformação na minha mente proporcionada pela ação do Espírito Santo também cresce a cada dia e com isso minha convicção também".

Por fim, ressalta: "Meu objetivo é deixar a marca no mundo daquilo que de fato preencheu e transformou o meu viver".

O que é um influenciador digital?

O termo se refere aquelas pessoas que se destacam nas redes e que possuem a capacidade de mobilizar um grande número de seguidores, pautando opiniões e comportamentos e até mesmo criando conteúdos que sejam exclusivos. A exposição de seus estilos de vida, experiências, opiniões e gostos acabam tendo uma grande repercussão em determinados assuntos.

FONTE: Artigo Influenciadores Digitais e as Redes Sociais Enquanto Plataformas de Mídia

Refletir é consequência

São mais de 26 mil seguidores que acompanham a rotina de Thays Lessa diariamente em seu perfil do Instagram. No YouTube, mais de 55 mil inscritos. Com apenas 22 anos, a fotógrafa e designer, que se mudou recentemente de Fortaleza para São Paulo, explica que falar sobre suas reflexões em plataformas como essas é uma consequência de sua jornada de vida. A naturalidade com que fala sobre assuntos como casar cedo, submissão, medo e amor conquista seus seguidores, que nos comentários deixam dúvidas e torcem por sua rotina em uma nova cidade.

"Recebo muitas mensagens, tanto por e-mail, como nos comentários do YouTube e por mensagem direta do Instagram. Algumas pessoas agradecem, outras desabafam coisas profundas. Isso tudo me inspira a não parar, continuar produzindo conteúdo para ajudá-las de alguma maneira. Infelizmente, tenho dificuldade de conseguir responder a todos. Quero até me organizar melhor em relação a isso".

Thays Lessa fala com naturalidade sobre temas como amor próprio, casar cedo e submissão FOTO: Reprodução / Instagram
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Quero que toda pessoa que entre no meu perfil, saia de forma diferente, melhor do que antes
Thays Lessa

Thays diz que passou a fazer mais reflexões em sua conta do Instagram quando começou a ficar triste ao olhar perfis do Instagram, a maioria de influenciadores digitais. "Começava a comparar a minha vida imperfeita com a suposta vida perfeita do outro. Foi aí que passei refletir no poder da internet. Falei para mim: 'Quero que toda pessoa que entre no meu perfil, saia de forma diferente, melhor do que antes. Quero que aprendam algo, que saiam com a empolgação de viver a vida real que foi dada a ela'. O canal no YouTube foi a forma que encontrei para estender a minha intenção de ajudar e inspirar pessoas".

A fotógrafa divide com seus seguidores partes de salmos FOTO: Reprodução / Instagram

Seu foco é ajudar pessoas reais que têm rotinas reais, assim com ela. Ela pontua que as redes sociais e o YouTube atingem, em sua grande maioria, pessoas jovens e que ela enxerga tanto um lado positivo como negativo nisso. "É positivo porque eles acabam tendo acesso à informação. Mas não minto em dizer que fico preocupada. Com o fácil acesso, eles têm contato com todo tipo de conteúdo. Conteúdos que agregam e outros que destorem. Lendo o feedback que recebo percebo que os jovens hoje são inseguros, e acabam se comparando bastante com o que vêem nas plataformas".

Outro detalhe que chama atenção logo de cara no perfil de Thays é o cuidado com cada detalhe de seu feed. "O meu Instagram é como o meu parque de diversão. Eu amo poder deixá-lo bonito visualmente para mim. Amo tratar as fotos no celular, testar recursos novos, etc".

A fotógrafa também abriu seu coração e falou sobre sua jornada com Jesus. "Cresci em um lar cristão, mas foi quando tinha 15 anos que realmente encontrei Jesus e começamos a andar juntos. Sou muito grata em dizer que foi através da igreja local Comunidade Cristã Videira (em Fortaleza), que fiz parte até me mudar para São Paulo, que pude aprender mais de Deus, mais de Jesus e aprender muito mais sobre mim. Sete anos depois, posso dizer que aprendi muito e tenho ainda muito do que viver e presenciar. Jesus mudou e ainda muda minha vida. Se Ele fez isso por mim, eu não posso parar de querer ajudar pessoas a encontrar esperança, fé e amor".

Compartilha o que lhe faz bem

Lana Soares é outro exemplo de personalidade do Instagram que usa sua plataforma para passar uma mensagem para seus seguidores. Ela explica que falar sobre temas reflexivos na internet surgiu de uma forma natural. "Acho que o Instagram de cada pessoa aborda temas que têm a ver com a vida e interesses dela. Seja seu negócio, carreira, fé, amizades, hábitos, etc. Então naturalmente o meu é cheio de reflexões sobre Deus, vida, relacionamento, gestão de pessoas... Quem me conhece sabe o quanto isso é a minha cara".

"Vejo que a própria ferramenta amadureceu muito ao longo dos anos no sentido de os usuários saberem o que querem compartilhar e quem querem alcançar. Virou uma ferramenta de marketing mesmo. Mas, na época que criei foi bem aleatório, acho que foi assim para muita gente na criação de sua conta pessoal", completa ela, que é estudante de psicologia e pós-graduanda em gestão e liderança avançada de pessoas.

Lana Soares diz que as mensagens que recebe como feedback a encorajam a continuar compartilhando conteúdo FOTO: Reprodução / Instagram

A jovem prefere não ser rotulada e não concorda com o título de influenciadora digital de Deus. "Falo de Deus porque Ele é grande parte da minha vida, mas também falo sobre coisas aleatórias. Acho que se não tivermos cuidado, um título para retratar o assunto que é abordado por alguém pode colocar essa pessoa dentro de uma caixa. Penso que todo ser humano é grande e complexo demais para ser definido por um título", opina.

Ser evangélico se tornou algo bastante estereotipado ao longo dos anos, mas em essência o termo diz respeito a 'aqueles que seguem o evangelho'. Então sim, sou evangélica
Lana Soares

Com mais de 7 mil seguidores, Lana gosta de trocar ideia com quem a acompanha no mundo virtual. Ela conta que ganha o dia quando recebe mensagens de pessoas que se identificaram com algo que compartilhou. "Principalmente quando é uma mensagem de agradecimento por alguma reflexão que trouxe uma nova perspectiva ou decisão positiva para a vida de alguém. É um grande encorajamento a continuar compartilhando com o coração, falando de coisas da vida real mesmo, sendo vulnerável".

Lana também tem como objetivo dar continuidade ao seu canal no YouTube. Sua ideia é falar sobre Deus, relacionamento e gestão de pessoas. Uma forma de aprofundar mais ainda o que ela já constrói em seu perfil do Instagram, que diga-se de passagem, é tudo feito por hobby. "Gosto de dizer que o que eu amo mesmo é falar de pessoas para pessoas. Todos somos pessoas e lidamos com pessoas todos os dias. Ou seja, tema relevante para todo mundo. É isso que estudo, é com isso que trabalho e é por isso que sou apaixonada. Pessoas vivem, se relacionam, trabalham, buscam uma razão de existir. Temos muito o que aprender e conversar dentro dessas linhas".

Para escolher os assuntos que vai tratar em suas plataformas, a psicóloga em formação diz que se inspira facilmente. Seja com uma leitura, um filme, uma frase e até mesmo uma conversa. "Tudo me faz pensar. Meu marido que o diga. Ele escuta em primeira mão minhas 'filosofias'. Outra coisa importante desse processo é que praticamente tudo que compartilho surge de uma reflexão pessoal, de um aprendizado meu, de algo que eu venho lidando. A partir daí vou ler sobre o assunto, ver o que a Bíblia diz a respeito, conversar com pessoas, assistir vídeos...".

Além do Instagram, ela também pretende fazer vídeos para o YouTube FOTO: Reprodução / Instagram

Lana ainda contou que nasceu em uma família católica. Ainda pequena, quando tinha nove anos, foi com a mãe e a irmã mais velha conhecer uma igreja evangélica. No começo, conta que foi resistente, mas acabou se identificando com a igreja, que frequenta até hoje. "Ser evangélico se tornou algo bastante estereotipado ao longo dos anos, mas em essência o termo diz respeito a 'aqueles que seguem o evangelho'. Então sim, sou evangélica".

"Com o tempo aprendi que o que realmente importa é um relacionamento íntimo e pessoal com Deus. Você tem que procurar uma religião e igreja que te ajude a ter isso. Acredito que dizer ter uma religião, seja ela qual for, mas sem que a mesma te aproxime de Deus de verdade, não vale a pena. Assim como qualquer outra coisa que dizermos ser ou fazer, mas sem de fato viver isso e consequentemente usufruir de seus benefícios. Vejo que essa área da espiritualidade é uma chave que influencia todas as outras áreas da nossa vida, responde a perguntas bem essenciais e merece bastante atenção".

Por fim, ela frisa que gosta de compartilhar o que lhe faz bem, com a intenção de que suas mensagens também façam outras pessoas bem. "Minha escrita é para compartilhar das minhas convicções, reflexões, pensamentos, o que eu genuinamente penso que pode agregar na vida dos outros. Espero que isso faça bem ao maior número de pessoas possíveis, sejam elas evangélicas ou não".