Imagine a seguinte cena, típica de um pesadelo da pré-adolescência: você está num local público e, de repente, percebe que está sem roupa, nu mesmo. E, para piorar a situação, quem está por perto passa a lhe observar da cabeça aos pés. Pense ainda que cada gesto, cada ação sua é observada e, por mais que se tente esconder as partes íntimas, tudo acaba ficando à mostra.
Quem assistiu à 4ª temporada de House Of Cards sabe do que estamos falando. Esses dados são valiosíssimos para empresas e políticos. Não à toa, o Facebook é uma empresa bilionária. Aliás, o WhatsApp nosso de cada dia também pertence ao Mark Zuckerberg, assim como o Instagram. Não ache que as informações trocadas lá ficam só entre você e o destinatário.
E não é só de texto que estamos falando. O Messenger, aplicativo necessário para “conversar” pelo Facebook em smartphones, por exemplo, tem acesso a seus contatos, suas configurações do aparelho, pode enviar SMS e gravar áudios e vídeos sem sua permissão. Então, sorria, você pode estar sendo filmado pelo seu próprio celular na intimidade do seu lar, por exemplo.
Teorias da conspiração à parte, a situação é real e é o que pagamos pelas comodidades dadas por essas tecnologias, que também estão em cartões de supermercados, farmácias, e até em bilhetes de ônibus. Os dados coletados são importantes para mapear os hábitos dos consumidores/cidadãos. Por um lado, permitem a criação de estratégias e benefícios aos usuários. Por outro, há um controle sobre nosso comportamento.
No transporte público, por exemplo, as informações coletadas -saber que vai para onde, de onde sai, quanto tempo demora e a que horas - podem tanto servir para desenvolver políticas de transporte público como para estabelecer uma vigilância massiva. Se numa democracia esta ideia pode parecer surreal (os recentes acontecimentos políticos mostram o contrário), o uso para fins eleitoreiros é bem vantajoso.
Falando em política, a aposta no sucesso da série House of Cards, aliás, foi resultado da análise do comportamento dos usuários do Netflix feita a partir dos dados coletados pelo serviço de stream de vídeos. Atualmente, aparelhos de televisão, videogames e o wi-fi que você usa no shopping, por exemplo, fazem a mesma coisa.
Numa tentativa de regulamentar a coleta de dados, tramita na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei 4060/2012 , que desde novembro de 2015 está na Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática (CCTCI) da casa; e um anteprojeto do executivo federal encabeçado pelo Ministério da Justiça.
Os dois textos estabelecem que as pessoas sejam plenamente informadas sobre a coleta no momento em que ela é feita, bem como sobre a forma em que as informações serão utilizadas. Além disso, órgãos públicos não poderão fornecer dados pessoais a empresas privadas. Resta saber se, caso aprovadas, as leis terão eficácia frente ao lobby e às dificuldades de adequação impostas por organizações estrangeiras.
Veja de onde pode vir a captação de dados
O vídeo a seguir mostra como é importante ter cuidado com seus dados. Ele não é novo, é de 2012, mas sua temática é muito atual.