Diário do Nordeste Plus

Cinco cozinhas internacionais em Fortaleza

As particularidades de cada restaurante fazem com que os fortalezenses atravessem o mundo sem sair da sua cidade

Em 290 anos de existência, a cidade de Fortaleza ganhou fama mundial por acolher filhos de outros estados e países. A capital que atualmente se tornou um dos maiores polos de turismo do Brasil, começou a ser o desejo de turistas no fim do século XIX e no início do XX. Na ocasião, árabes, espanhóis, italianos, ingleses e portugueses, escolheram a região procurando tranquilidade, emprego e melhoria de vida. Com as mudanças, Fortaleza foi se moldando, ou seja, sua arquitetura, costumes, dialetos e gastronomia foram sendo reconstruídos com o passar do tempo.

Atualmente, a Capital cearense continua sendo uma das rotas mais desejadas pelos estrangeiros, seja para visitação ou para moradia. De acordo com a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero), apenas nos primeiros quatro meses de 2016, a capital cearense recebeu 31.761 desembarques de passageiros estrangeiros no Aeroporto Internacional Pinto Martins. Ou seja, um aumento de 22% nos últimos anos, 2014 (27.364); 2015 (31.398).

Com o crescimento de turistas estrangeiros, o município de Fortaleza começou a ser palco de restaurantes especializados em cozinha internacional. Atualmente é possível apreciar uma comida típica de outro país diariamente sem repetir o prato. Podemos encontrar restaurantes alemães, portugueses, chineses, coreanos, tailandeses, mexicanos, franceses, italianos, suíços, entre outros.

Que tal um desafio? Cinco dias na semana sem repetir um prato? Visitamos alguns destes locais e trazemos um pouco da história e dos pratos principais de cada endereço. Siga conosco nesta viagem gastronômica sem sair de Fortaleza.

Marquês da Varjota

Interior do Marquês da Varjota Foto: Reinaldo Jorge

O restaurante localizado no coração da Varjota é um dos mais procurados em Fortaleza quando o assunto é a típica gastronomia portuguesa. Administrado por Berta Castro Lopes e Armando Leite, casal lusitano, o Marquês é uma das casas que fazem com que o cliente se sinta em Portugal. Isso porque, além da comida, os proprietários resolveram investir em detalhes, ou seja, o casarão situado na rua Frederico Borges tem todo o charme lusitano.

Por fora, a estrutura do local se assemelha com um pequeno sobrado português, azulado, com portas e janelas repletas de vidraças. A simplicidade externa esconde a riqueza de detalhes que o Marquês da Varjota possui. O casal de empresários fez questão de embelezar cada lugar do espaço com itens da cultura portuguesa, como tonéis de vinho do porto, móveis antigos, paredes rústicas e vários artigos de porcelana.

A admiração por Fortaleza começou de Armando Leite, que veio passar férias com um grupo de amigos e se encantou pela beleza da cidade. Quando retornou para Portugal, decidiu trazer toda a família para residir na capital cearense. O casal que trabalhava como funcionários públicos na Europa, resolveu pedir licença do emprego para se mudar para o Brasil. Depois de um ano de "férias", observando os costumes e o mercado local, abriram o Marquês da Varjota. Isso já faz 19 anos. O restaurante foi um desafio para ambos, porque era a primeira vez que se envolviam diretamente com a gastronomia.

“Eu só cozinhava para minha família, em casa. Tinha uma vida totalmente diferente com a que tenho atualmente”Berta Castro Lopes
Berta Castro Lopes, responsável pelo Marquês da Varjota Foto: Reinaldo Jorge

Consolidado no mercado, o Marquês da Varjota se destaca atualmente pela sua variedade de pratos que envolvem bacalhau, alguns conhecidos da culinária portuguesa e outros desenvolvidos por Berta. Mas nem sempre foi assim, no começo a família teve dificuldade em conseguir ingredientes para a execução dos pratos, muitos produtos tiveram que vir de fora do Estado e até mesmo do País. Coisa que não se repete mais, graças à globalização. 90% dos produtos já são encontrados em Fortaleza.

A aproximação dos condimentos brasileiros com os lusitanos fez com que os colaboradores do restaurante aprendessem de forma rápida a finalizar todos os pratos. Hoje, o prato principal da casa é o "Bacalhau à largueiro", feito na brasa. Depois dele vem o famoso "Bacalhau entre rios", um prato simples, rápido e que cheira muito bem.

Bacalhau entre rios. O prato sai pelo valor de R$ 117,50

Marcel Restaurant

Espaço interno do Marcel Bistrô Foto: Nah Jereissati

Presente em Fortaleza há 16 anos, o Marcel Restaurant, especialista em culinária francesa, chegou à cidade por meio de um convite de administradores do hotel Holliday Inn. O estabelecimento que já era conhecido em São Paulo e em outros estados, chegou nas terras alencarinas com uma missão importante: instaurar uma nova opção de produto na capital. Isso porque, naquela época, não havia nenhuma casa do gênero.

Localizado no pátio do Holliday Inn, o Marcel Restaurant surpreende o público com o seu espaço interno, posicionado na frente da Praia de Iracema. O restaurante apresenta uma área composta por uma fonte, um bar e um lugar dedicado aos queijos, frutas e legumes. Além do mais, a casa é rica em variedades e bem frequentada por franceses e típicos cearenses, apreciadores da gastronomia francesa, farta em frutos do mar. No Marcel, podemos encontrar mais de 100 pratos incluindo lagostas, camarões, ostras, escargots, peixes de água doce e salgada, entre outros. A variedade de iguarias francesas, que muitas vezes se confundem com a culinária local, fez com que o cearense se interligasse mais com a cozinha internacional.

“Logo quando abrimos, os fortalezenses sempre pediam pratos ornamentais, ricos em molhos e outros condimentos. Atualmente, os clientes preferem os tradicionais pratos franceses, que lembram um pouco com a gastronomia local, cheia de frutos do mar”Frabrício Bizol – Gerente administrador

Atualmente estabilizado no mercado cearense, o Marcel Bistrô teve dificuldades de adaptação logo no início de sua trajetória aqui em Fortaleza, por conta de ser um produto atípico e por possuir um ticket elevado. Para driblar esses problemas, os administradores resolveram pensar em soluções para aproximar o fortalezense da casa. Os planos deram certo e há quase 17 anos o Marcel tem um público composto de 70% de cearenses e 30% de turistas estrangeiros.

Outra dificuldade que deixou de existir foi a procura por matéria-prima, nos anos 2000, os administradores tinham que importar quase todos os seus ingredientes e isso pesava no bolso do empresário e do consumidor. Hoje em dia, isso é muito raro, todos os produtos usados pelos chefs do Marcel são nacionais, a única iguaria que ainda precisa ser buscada na França são os escargots.

Buscando inovar ainda mais, os chefs do Marcel desenvolveram um penache de frutos do mar, que inclui um mix de elementos de água doce e salgada. Ele custa R$ 110 e é o prato mais buscado no restaurante.

O penache de frutos do mar custa R$ 110 Foto: Nah Jereissati

La Frontera Tex-Mex Grill

Nachos acompanhado de guacamole e outros molhos da casa, custa R$ 39 Foto: Kébler Gonçalves

O típico restaurante mexicano, localizado na rua Eliseu Uchôa Beco, foi desenvolvido pelo empresário cearense Raniere Almeida. Depois de morar muitos anos nos Estados Unidos, virou fã e começou a pesquisar sobre a gastronomia Tex-Mex (comidas típicas do México com o churrasco texano). Quando retornou para Fortaleza, ele sentiu saudade do contato com a comida estrangeira e viu a oportunidade, junto com a sua esposa, de construir uma cozinha especializada mexicana. Foi com esse pensamento que os empreendedores desenvolveram o La Frontera há cerca de um ano.

Recém-chegado em Fortaleza, os pratos da casa já conquistaram o gosto do paladar cearense. O carro-chefe do La Frontera são as fajitas, carnes grelhadas com tortilhas de milho e pimentões salteados, junto com os nachos, que são acompanhados pela carne mexicana e muito queijo. Por possuir uma cultura rica, apresentando burritos, tacos e enchiladas, Raniere Almeida teve que repassar tudo que aprendeu na América para o chef cearense Carlos Alberto.

Mesmo popular em Fortaleza, a casa teve que abrasileirar alguns pratos, ou seja, a pimenta, sempre presente na culinária mexicana, teve que ser um pouco reduzida para satisfazer o gosto do cliente. Os pratos possuem uma escala que varia do molho mais leve ao mais picante, com jalopeño peper (pimenta verde mexicana).

“O cearense não gosta de pimenta. Isso fez com que o ingrediente fosse reduzido em alguns pratos, mas não tiramos o elemento por completo”Paulo André - Gerente administrativo

A pimenta ainda é o produto mais difícil que o La Frontera tende a encontrar. Isso porque, a jalopeño peper só se encontra no México e eles sempre têm que importar o ingrediente para o Brasil. As outras iguarias, carnes, legumes e tortilhas, são encontradas em Fortaleza e ou São Paulo.

O chef Carlos Alberto, que se tornou especialista em gastronomia Tex-Mex, mostra como são os processos para se fazer uma guacamole, típico molho mexicano.

K-BaB

Woo Sung conhecido popularmente como Branco Sung, chegou ao Ceará com sua família em 2013 para trabalhar com finanças no Pecém (terminal portuário cearense). Mesmo sem conhecer o Brasil e não falando nada em português, o empresário coreano logo se adaptou ao Estado. Isso porque sua cidade natal também é praiana. O único desafio para Branco em Fortaleza foi com relação à gastronomia. Acostumado com refeições saudáveis, sem excessos de sal e ricas em frutas e legumes, ele teve que se adaptar aos gostos peculiares do País.

Depois de muito tempo afastado dos pratos típicos, Branco Sung viu uma oportunidade de negócio. Em 2015, decidiu sair do Pecém e abrir um restaurante, para ter contato com a comida coreana e também apresentar os pratos aos fortalezenses. Situado na avenida Desembargador Moreira, o restaurante apresenta diferenciais, muito minimalista e farto de detalhes, como livros, mapas, fotos e alfabetos coreanos.

Mesmo novo no ramo da gastronomia, a profissão não é algo estranho para o empresário. Isso porque, sua mãe já trabalhava com restaurantes na Coreia do Sul. Apesar da familiaridade, não é ele que prepara os pratos, mas sim sua esposa junto com as suas assistentes, todas cozinheiras locais.

Branco Sung, sua esposa e as demais cozinheiras do K-BaB Foto: Jorge Alves

Há um ano no mercado e quase quatro em Fortaleza, Branco Sung se sente feliz e não almeja retornar para Coreia do Sul por enquanto. Segundo o empresário, tudo que ele precisa tem ao alcance, tranquilidade, praias e a família. Mesmo assim, o coreano não deixa de ir ao seu país de origem para visitar sua família ou reabastecer sua cozinha.

“A maioria dos produtos é encontrada no Brasil. A maior dificuldade são as frutas e alguns temperos”Branco Sung

Procurando levar o cliente para a Coreia do Sul, Branco Sung prepara pratos típicos do país dele, como o Samsek Jeon, R$ 9,0, (um sushi de ovo), Bimbimbap, R$ 28, (uma mistura de arroz) e o Japche, R$ 37, (macarrão de batata-doce).

Japchen, macarrão de batata-doce, R$ 37

Cantina Caravaggio

Há uma década em Fortaleza, a Cantina Caravaggio, localizada na Rua Professor Dias da Rocha, foi criada pelo empresário Roberto Markan, que também é responsável por outros restaurantes temáticos na cidade. Segundo o gestor, depois de solidificar seu outro empreendimento no mercado, sentiu a falta de mais um desafio. A busca fez com que ele observasse que na época, 2006, quase não havia cozinhas totalmente italianas na cidade.

Quem observa a faixada da Cantina Caravaggio por fora se surpreende com o seu espeço interno. Isso porque, a casa é um típico bistrô italiano, com pouca iluminação, discreta, repleta de obras de artes e composta por instrumentos musicais, como piano. O restaurante foi idealizado para ser um ambiente que possa responder todas as exigências internacionais e não só gastronômicas, fazendo com que o fortalezense se sinta fora da sua cidade.

“Não podemos levar só ao pé da letra a gastronomia. Envolve muito, o ambiente, a atmosfera, a música. O complexo culinário é um envolvimento de todos os sentidos”Roberto Markan – Responsável pela Cantina Caravaggio

A Cantina Caravaggio conta hoje com a parceria do chef Vanderlei Alves Sint. Além de comandar a cozinha do restaurante, ele tem a missão de ser o consultor e alertar para as mudanças de mercado. Especialista em cozinha italiana contemporânea, o cozinheiro apresenta pratos com diferenciais, como confit de pato, fettuccine e ravióli, mas segundo ele, os fortalezenses consomem mais filé com aspargos e o famoso "Risoto de camarão", à base de tomate e prosecco.

O risoto de camarão custa R$ 72 Foto: Reinaldo Jorge

Serviço

Marquês da Varjota: Rua Frederico Borges, 426, Meireles. (85) 3023.5120

Marcel Restaurant: Av. Historiador Raimundo Girão, 800, Praia de Iracema. (85) 3219.7246

La Frontera Tex-Mex: Rua Eliseu Uchôa Beco, 450, Patriolino Ribeiro. (85) 3051.6735

K-BaB: Avenida Desembargador Moreira, 90, Meireles. (85) 3085.1760

Cantina Caravaggio: Rua Professor Dias da Rocha, 199, Meireles. (85) 3219.5211