Publicidade

Publicado em

Viajar sozinho pode ser uma excelente oportunidade de se descobrir. Dependendo do local, você pode se conectar com a natureza nas maravilhosas Montanhas Rochosas do Canadá, fazer novas amizades em um pub crawl da Irlanda, conhecer outras culturas na Tailândia ou simplesmente descansar na praia de Maragogi, em Alagoas, sem se preocupar com nada ou ninguém. No entanto, sair do conforto da sua casa e da sua cidade e desbravar o mundo sozinho não é para todos, já que é preciso coragem para mergulhar de cabeça numa aventura como essa.

Camila Silveira, de 27 anos, resolveu enfrentar o medo do desconhecido e outubro em 2017 fez sua primeira viagem sozinha. O destino escolhido foi Minas Gerais. O intuito era ver o show do Paul McCartney. Por ser mulher, o desafio ainda é maior, porque parte da sociedade rejeita a ideia de ver a figura feminina embarcando em uma jornada de autoconhecimento, mas a jornalista indica a experiência.

Camila Silveira aparece na foto em Ouro Preto. Por ser mulher, ela conta que teve que tomar cuidados redobrados em sua jornada Foto: Arquivo pessoal

"Fiquei com medo de não gostar da ideia de ir só, porque nunca tinha nem ido ao cinema sozinha, quem dirá viajar pra uma cidade desconhecida e ainda ver um show sem companhia também. Resolvi encarar o medo porque via meus amigos fazendo o mesmo e sempre contavam o quanto era maravilhoso e enriquecedor. Sabia que aquela era oportunidade ideal para vencer o receio. Fui e voltei com a ideia de fazer isso outras vezes. Já deixei de fazer várias coisas porque não tinha companhia, mas depois dessa viagem vi o quanto era tranquilo".

800 mil

passageiros optaram por viajar sozinho, em torno de 20% do total de clientes que a CVC embarcou para destinos internacionais e nacionais em 2017. Esse número vem se mantendo estável nos últimos anos, de acordo com a agência

30%

Foi o crescimento dos jovens de diversas idades que optaram por conciliar férias com estudos no estado do Ceará no último ano, de acordo com dados da Experimento Intercâmbio

Roteiro

Aqueles que viajaram sozinhos, optaram por fazer uma viagem com roteiros já pré-estabelecidos, que visitam várias cidades com completa assistência e guia falando português. Essa modalidade também é uma forma de socialização entre os viajantes

FONTE: CVC Corp

Mesmo com a instabilidade política e econômica que afetou diretamente a nossa economia, os mineiros não apenas encontraram meio de continuar a viajando como também descobriram uma nova justificativa: a qualificação profissional. Com o mercado de trabalho saturado, esses profissionais se deram conta que o intercâmbio oferece uma experiência única e é um forte diferencial em seus currículos.

Publicidade

A princípio, Camila viajaria com as amigas, mas quando todas desistiram, ela permaneceu firme com a ideia. A jornalista foi além e, além do show do ex-Beatle em Belo Horizonte, fez uma viagem de oito dias de ônibus por cidades de Minas Gerais. "Aproveitei que ia sozinha para fazer um roteiro maior, pois tenho família em Juiz Fora e amigas em Viçosa".

A viagem da jornalista começou porque ela não queria perder o show de Paul McCartney em Belo Horizonte, em 2017 FOTO: ARQUIVO PESSOAL

Por ser mulher, ela ressalta que teve que tomar cuidados redobrados: pegou referência do que era seguro fazer no Estado e leu dicas que outras pessoas compartilhavam na internet sobre o destino. "Tive o cuidado de não alugar quarto misto, não andar à noite sozinha na rua e tinha sempre um carregador portátil comigo, para caso ficasse sem bateria no celular. Ainda tinha a preocupação de sempre avisar a minha família onde eu estava e quando chegava à noite. Prestava sempre atenção na localização que eu estava, no caso de alguém que estivesse desviando o caminho".

Quem viaja sozinho para destinos nacionais, opta pelos roteiros rodoviários, principalmente o público da melhor idade FONTE: CVC Corp

Camila indica, inclusive, para quem está se planejando para uma viagem, ler com atenção o que se pode fazer no destino escolhido, para não chegar no local despreparada. "Escolha um local pra ficar que seja perto dos principais pontos turísticos. Tenha sempre um celular com internet e bateria. Hoje em dia o celular é um grande aliado para resolver qualquer problema, seja pra saber o caminho ou mesmo pegar um Uber na volta. E ficar sempre atenta com as coisas a sua volta".

A paixão por viagens virou profissão

O publicitário Altemar Pessoa lembra que sua primeira viagem internacional foi logo depois de se formar, em 2006. Desde então, nunca mais parou. "Falei pros meus pais que não queria festa de formatura, preferia fazer uma viagem". Foi aí que ele ganhou um intercâmbio de 12 semanas em Salamanca, para estudar espanhol, na companhia de um amigo.

Altemar Pessoa, publicitário e turismólogo, aparece em foto nas Filipinas. Ele, que trabalha como consultor de viagens, gosta da experiência de viajar sozinho FOTO: Reprodução/Instagram

Após a viagem para o continente europeu, o recém-formado emendou a faculdade de turismo no ano seguinte. Após o primeiro semestre na nova graduação, veio a necessidade de fazer outro intercâmbio. Ele explica que como o estudante do curso de turismo precisa saber inglês, ele foi pra Vancouver, no Canadá, estudar a língua. "Foi a primeira vez que eu saí do Brasil sozinho".

Uma modalidade que vem crescendo bastante entre os que viajam sozinhos são os cursos de idioma fora do país combinados com lazer

Apesar de ter sido um desafio maior, ele conta que a experiência foi ótima e que aproveitou para conhecer mais locais. "Enquanto estava lá, de vez em quando eu viajava pra cidades próximas, algumas vezes acompanhado de pessoas que eu conhecia e outras vezes sozinho". Depois dos seis meses de intercâmbio na cidade canadense, o estudante foi para os Estados Unidos conhecer mais locais, também sozinho.

Ainda durante o curso de turismo, Altemar fez outro intercâmbio, dessa vez universitário. Ele explica que a parceria da Universidade de Fortaleza (Unifor) com instituições ao redor do mundo o levou para a Universidad de Las Americas Puebla, na cidade de Puebla, no México. O publicitário lembra, entretanto, que foi a primeira vez que teve algum tipo de receio em uma viagem.

Medo

"Foi um pouco assustador porque era a primeira vez que eu ia viajar sozinho para um canto que eu nunca tinha ido". O turismólogo lembra que a chegada no novo destino já foi conturbada, pois aterrissou na Cidade do México na véspera de ano, o que complicou bastante a estadia inicial. "Passei o Réveillon lá sozinho, isso que é ser só", disse rindo.

Na imagem, Altemar posa em um templo em Bangok FOTO: Reprodução/Instagram

Ele conta que, após a virada do ano, ainda ficou mais cinco dias na cidade antes de ir para seu próximo destino. A ida para Puebla foi de ônibus, viagem que dura aproximadamente duas horas e meia para percorrer quase 140km. "O começo foi bem esquisito porque eu não conhecia praticamente nada e nem ninguém. Foi um pouco estranho, mas deu para desenrolar".

Atualmente Altemar trabalha em Fortaleza no segmento de turismo. Ele, que é pós-graduado em administração de empresa, é consultor de viagem de intercâmbios há mais de dez anos e afirma que conhece muitas pessoas que têm medo de saírem sozinhas da sua cidade. No entanto, seus amigos e familiares, hoje, como conhecem suas experiências anteriores, têm uma opinião diferente.

Especialista

Depois de ter ido aos cinco continentes do mundo e passar por mais de 30 países, Altemar relembra da última aventura, onde ficou hospedado em albergues. "A última viagem que fiz sozinho foi o leste europeu em 2016, quando conheci Berlim, Praga, Viena e Budapeste". Agora, o consultor se prepara para os próximos destinos. "Vou para Israel e Jordânia em junho deste ano".

A única desvantagem de viajar sozinho é ter que pedir para pessoas desconhecidas baterem suas fotos, segundo o consultor FOTO: Arquivo Pessoal

Quando viaja sozinho, Altemar pontua que gosta bastante de se hospedar em albergues. "Não tenho problema em relação a isso. Para quem viaja só é primordial, porque é bem mais fácil de fazer amizade". Apesar de gostar de conhecer gente nova, ele conta que prefere ficar num quarto com a menor quantidade de pessoas possíveis. "Tento ficar em um quarto individual e, se não der, fico no máximo em um quádruplo".

Realista, o consultor de viagens revela que viajar desacompanhado também tem suas desvantagens. "Uma das coisas mais chatas de viajar só é a falta de alguém pra tirar minhas fotos, até porque se não a maioria vão ser selfie. Nesse ponto é legal ter alguém pra lhe acompanhar, mesmo porque é muito chato ficar pedindo o tempo todo para as pessoas que você não conhece tirarem fotos suas".

Altemar garante que viajar é uma das melhores experiências que alguém pode ter e que uma pessoa não deve perder uma oportunidade por não ter uma companhia. "Eu sempre procuro alguém pra viajar comigo, até porque é legal viajar com alguém, mas eu não deixo de viajar por isso". Ele explica ainda que se a pessoa for aberta a possibilidades, é muito fácil conhecer novas pessoas, fazer amizades e criar recordações maravilhosas.

Mochileiro: viajar gastando pouco

A primeira viagem que o pedagogo Bruno Cesar fez foi para a praia de Canoa Quebrada, situada no litoral leste do Ceará, em 2010. O aventureiro de 30 anos foi acompanhado de um francês que ele havia hospedado em sua casa três meses antes, mas foi somente em 2012 que ele percebeu que poderia viajar gastando pouco.

Em agosto de 2017, Bruno foi ao Humantay Lake Salkantay, localizado na Cordilheira dos Andes, no Peru FOTO: Arquivo Pessoal

Naquele ano, ele conheceu uma espécie de ídolo, Rogério Chimionato, engenheiro que, após um câncer e uma separação estava vivendo um ano sabático, rodando o Brasil apenas na base da carona. Junto do mochileiro nato, Bruno foi conhecer os cânions do Rio Poty, no interior do Piauí, em uma pequena viagem de quatro dias. "Havíamos nos falado pela internet e, ao lado dele, tive coragem de encarar as BRs para pegar carona". O pedagogo relata que a aventura deu tão certo que ele não quis mais parar. "Foi a partir daí que tudo começou pra mim".

Em 2014, o mochileiro novato resolveu encarar sua primeira viagem sozinho. Ele escolheu o Rio de Janeiro, pois já tinha coisas a resolver em solo carioca e acabou aproveitando para conhecer também o interior do estado fluminense. "Chegando lá, botei em prática tudo que aprendi com o meu amigo Rogério na viagem ao cânion no Piauí: fiquei em casas de famílias, em cidades do interior eu acampei e pedia carona pra me locomover".

Meta: conhecer todo o Brasil

O aventureiro se apaixonou de tal forma pela liberdade que acabou ficando quatro meses na região sudeste do País. "Visitei outros estados vizinhos ao Rio de Janeiro e em seguida desci para o Sul e depois fui para o Centro-Oeste". Ele contabiliza que conheceu muita gente, já que a regra máxima é sempre dormir na casa de alguém. "Tinha que economizar na hospedagem para que fosse possível continuar viajando", explica.

Bruno já passou por 20 estados brasileiros, dos 26 existentes

Depois do período rodando o País, Bruno estabeleceu uma meta. "Quero fechar o Brasil, passar por todos os estados". Ele esclarece que não tem pressa e nem escolhe os destinos, pois não tem vontade de conhecer lugares específicos. "Tudo me interessa, tanto cidade quanto natureza, normalmente eu vou para onde consigo uma promoção de passagem barata".

O mochileiro revela que já está próximo de sua meta, pois já passou por 20 estados. Fora do Brasil, o pedagogo já visitou nove países, entre alguns da Europa, como Portugal e Espanha, e América do Sul, como Argentina, Uruguai, Chile, Bolívia e Peru.

Viajante profissional

Viajar sozinho pela primeira vez é sem dúvidas um grande desafio. O jornalista e economista Anchieta Dantas Júnior enfrentou seus medos, já visitou mais de 120 cidades em 42 países e hoje consegue falar com propriedade do assunto. Durante a conversa com o viajante profissional e fundador e editor do blog Andarilho, Anchieta deu algumas dicas para quem curte viajar.

Anchieta visitou mais de 120 cidades em todo o mundo, a mais recente foi a Cidade do Cabo, na África do Sul FOTO: Arquivo Pessoal

Durante a escolha do destino, é essencial pesquisar tudo o que puder sobre o local escolhido: idioma, bairros, pontos turísticos, locomoção, alimentação, etc. A localização da hospedagem, por exemplo, é algo que vai fazer muita diferença durante a viagem. "Procure ficar próximo dos meios de transporte e pontos com mais atividades na cidade". Com uma boa escolha, o tempo de locomoção se torna menor e o viajante consegue aproveitar mais o destino escolhido.

Caso não conheça o idioma local, é bom ter pelo menos uma noção do básico e saber falar algumas palavras como "obrigado" e "por favor"

Caso não conheça o idioma local, é bom ter pelo menos uma noção do básico e saber falar algumas palavras como "obrigado" e "por favor". Já durante a ida, é essencial algum tipo de entretenimento para ajudar a passar o tempo, como músicas, livros ou filmes.

Praticamente todo mundo viaja com um roteiro pré-definido, mas ir em pontos de informação turística da cidade ou pedir ajuda nas recepções dos hotéis também pode ser um diferencial. Outra excelente opção são os city tour que "ajudam a poupar tempo e permitem conhecer as atrações e suas curiosidades na companhia de um expert no assunto".

E apesar de deixar na mão algumas vezes, o celular ainda é um excelente aliado. "Use e abuse dos aplicativos que recomendam bons lugares para visitar, comer e se hospedar". Aplicativos de conversão de moedas, tradutores e GPS com mapas também ajudam muito.

Segurança

Anchieta recomenda que o viajante sempre mantenha a família e os amigos próximos a par do roteiro da viagem FOTO: Arquivo Pessoal

Anchieta recomenda que o viajante sempre mantenha a família e os amigos próximos a par do roteiro da viagem. "É importante que eles saibam onde você está ou deveria estar, caso algo aconteça". Os cuidados não param por aí. Durante o consumo de bebidas alcoólicas, por exemplo, o ideal é ir com calma. Caso algo mais sério aconteça, é bom ter os contatos de emergência oficiais, além do endereço e telefone da embaixada brasileira no país que você estiver. "Se você tem um conhecido que mora no local, anote os contatos dele fora do celular para usar caso a bateria acabe ou você fique sem ele".

Seguir o instinto também é importante e pode prevenir situações desagradáveis. "Não acompanhe pessoas que pareçam suspeitas e se achar um local duvidoso ou sentir que alguma atividade possa oferecer riscos a sua segurança, evite".

Ao pedir informações sobre algum lugar evite transparecer que está sozinho. Uma opção é falar que vai encontrar um amigo nesse local e quer saber como chegar lá

Para os que gostam de falar bastante, a dica é evitar dar muitas informações sobre si. "Nas conversas com desconhecidos, não se aprofunde nas informações pessoais, especialmente sobre o local onde está hospedado". Anchieta também sugere não sair com muitos documentos, é melhor deixá-los em cofre ou armário com cadeado no hotel/albergue.

Sobre assaltos, o jornalista alerta que eles acontecem em todo lugar, então o cuidado nunca será demais. "Furtos acontecem em qualquer cidade ou país e os pontos turísticos, como o nome já diz, são muito visados, pois muitas vezes os viajantes estão deslumbrados com o local e pouco atentos aos seus pertences". Por fim, ao pedir informações sobre algum lugar evite transparecer que está sozinho. Uma opção é falar que vai encontrar um amigo nesse local e quer saber como chegar lá.

Economizar

O jornalista e economista Anchieta Dantas Júnior já visitou países nas três Américas, Europa e África e hoje conta tudo no Blog Andarilho, no qual é fundador e editor FOTO: Arquivo Pessoal

Viajar sozinho nem sempre é barato, já que o aventureiro não tem com quem dividir suas despesas, por isso é importante economizar ao máximo. A melhor época para procurar passagens, segundo o viajante profissional, é entre 90 e 60 dias antes da data escolhida, que é quando as companhias geralmente fazem promoções. Além disso, sites comparadores de preços, como Voopter, Skyscanner, Kayak, Momondo e sites especializados como o brasileiro Melhores Destinos, que sempre publicam promoções de passagens, podem ajudar na tarefa.

Compre passagens entre 90 e 60 dias antes da data da viagem. Além disso utilize sites comparadores de preços, como Voopter, Skyscanner, Kayak,

A hospedagem também recebe ajuda da tecnologia e o comparador de hotéis Trivago é uma excelente opção. O jornalista revela que também gosta bastante do Booking, pois encontra desde de albergues a hotéis e, em muitos casos, com opção de cancelamento grátis da reserva.

Ele explica que esses sites possuem filtros de pesquisa, como de preços, que o usuário pode optar pelo valor máximo que está disposto a pagar. Porém, antes de fazer a reserva, Anchieta alerta que é importante ler avaliações de quem já se hospedou no imóvel em questão.