Texto: Jacqueline Nóbrega
Colaboração: Hugo Renan Nascimento Publicado em 06.11.2017

Uma análise feita pela consultoria EY Global enumera nove profissões que deverão deixar de existir até 2025 (veja arte). Os avanços da tecnologia, como a internet das coisas e o aumento da utilização da cloud computing, e as forças disruptivas, como as mudanças demográficas, afetarão o mercado de trabalho global e a forma como os funcionários serão contratados nas empresas.

O material da consultoria ainda pontua que, em menos de 10 anos, 1 em cada 3 postos de trabalhos operacionais serão substituídos por tecnologia inteligente. O relatório ainda ressalta que o mercado de trabalho deverá ser mais flexível, com cargos sob demanda e escritórios como pontos focais.

Oliver Kamakura, sócio de consultoria em gestão de pessoas da EY, afirmou, em entrevista ao Diário Plus por telefone, que a transformação digital no mercado pode resultar no desaparecimento dos postos de trabalho, mas o grande impacto acontecerá na forma de produzir valores. "Em um primeiro momento, acontecerá uma sofisticação na maneira como o valor é produzido".

Questionado sobre como as empresas estão se preparando para as mudanças no mercado de trabalho, ele pontua que elas estão focadas no que a tecnologia pode representar do ponto de vista da produtividade e do indicador financeiro. "No entanto, o outro lado dessa moeda é como as pessoas serão atingidas. As empresas olham a perspectiva da produtividade e não se preocupam com o lado humano".

27% das empresas acreditam estar preparadas para gerir o talento do futuro, enquanto menos de 50% das corporações possuem talentos na casa preparados para assumir posições críticas
Fonte: EY

O sócio de consultoria em gestão de pessoas da EY não acredita que em 2025 teremos um mercado saturado com a popularização de algumas profissões. "No momento atual, você teria esse cenário de saturação, mas a diferença é que esse processo digital não obedece a nada que a gente conhece. Essas novas tecnologias não só surgem rapidamente, como se combinam e fazem, a partir desta situação, surgir evoluções distintas. Nesse contexto de recursos como inteligência artificial, big data, robotização... acredito que o cenário de saturação de mão de obra não vai existir".

A nossa cultura corporativa não foi preparada para trabalhar com diversidade. Atualmente, temos quatro gerações distintas trabalhando no mesmo ambiente
Oliver Kamakura, sócio de consultoria em gestão de pessoas da EY

O relatório da EY também mostra que a proporção de pessoas com mais de 65 anos na população de países desenvolvidos saltará de 17,6% em 2025 para 23% até 2030. Ou seja, ao mesmo tempo que a força de trabalho está envelhecendo, temos também a entrada de novas gerações no mercado. Essa mistura de diferentes gerações, para Oliver, atualmente é um problema. "A nossa cultura corporativa não foi preparada para trabalhar com diversidade. Atualmente, temos quatro gerações distintas trabalhando no mesmo ambiente. São gerações que aprendem, produzem e se relacionam de formas diferentes. No entanto, a empresa trata todos os funcionários da mesma forma. Por conta do nosso histórico de gestão de pessoas, a questão geracional é difícil, mas pode se tornar um alavanco para criar gente competitiva".

Kamakura, no entanto, acredita que as competências comportamentais e as habilidades de relacionamento diferenciarão um bom profissional no futuro. "As competências técnicas, de forma geral, podem ser absorvidas pelas máquinas. É uma tarefa relativamente simples. A capacidade de fazer julgamentos baseado em valores, não é algo que conseguiremos que as máquinas façam dentro de um intervalo a longo prazo. Então, as capacidades cognitivas baseadas em valores, percepções, é algo que ainda vai levar um bom tempo para conseguimos substituir e é algo que vá diferenciar um bom profissional do outro".

9 profissões que devem deixar de existir em 2025

01

Operador de

telemarketing

Na era do atendimento online, não seria mais necessário ter uma pessoa física para fazer o intermédio

telemarketing

02

Subscritor de

seguros

Nessa situação, o atendimento passaria a ser digitalizado

Seguros

03

Reparador de

relógios

Os relógios inteligentes viraram objeto de desejo dos consumidores, então haveria uma diminuição de instrumentos mecânicos no dia a dia das pessoas

Reparador

04

Digitador

de dados

Os profissionais poderão ser substituídos por aplicativos que exercem a mesma função

Digitador

05

Agente de

crédito

Mais uma vez, os cálculos passariam a ser feitos por sistemas automatizados, já que as empresas apostam em financiamento imobiliário na internet

Crédito

06

Árbitro

Com recursos tecnológicos que mostram cada vez mais detalhes para tirar dúvidas durante um jogo, a função do árbitro não seria mais necessária

Árbitro

07

Trabalhadores

rurais

Os profissionais seriam substituídos por automação de máquinas

rurais

08

Caixa

Mais uma vez aqui é tendência é acontecer a automatização da função

imóveis

09

Corretor de

imóveis

A presença de um mediador para a compra de um imóvel seria substituída por sistemas menos burocráticos

imóveis

Funções redefinidas e novas habilidades

Bernadete Pupo, coach e consultora de Recursos Humanos, defende que em um futuro próximo certas funções não desaparecerão e, sim, serão redefinidas. Para não perder espaço no mercado de trabalho, ela pontua que os profissionais terão que desenvolver novas habilidades, necessárias para acompanhar as mudanças de sua função, ou se preparar para novas atividades. "O relatório do 'The Future of Employment' menciona que as atividades que são altamente repetitivas e rotineiras têm 99% de probabilidade de automação. Inclusive, há empresas já utilizando os robocalls. Observa-se também que os profissionais de marketing tendem a ter suas funções incorporadas pelo profissional de Tecnologia da Informação (TI), tendo em vista o avanço explosivo do marketing digital".

Ela também ressalta que atualmente a visão especialista é a característica que valoriza o profissional. Em um futuro próximo, no entanto, quem tiver uma visão multidisciplinar é que se destacará nas empresas. "A visão multidisciplinar garantirá a capacidade de integrar funções e buscar as melhores soluções para a empresa. A visão generalista também é importante para que o profissional tenha a mobilidade de atuar em diversas áreas, independente do vínculo com alguma empresa específica".

Atividades que são altamente repetitivas e rotineiras têm 99% de probabilidade de automação
Bernadete Pupo, coach e consultora de Recursos Humanos

A implantação de novas tecnologias em empresas é um fenômeno que ocorre com mais intensidade no Brasil desde o início da década de 70, explica Bernadete. No entanto, ainda segundo a coach, um dos grandes limitadores decorrentes do avanço tecnológico está na dificuldade em encontrar profissionais capacitados para atender a demanda.

Investir em trainees, por exemplo, é a solução que as empresas encontraram para esse tipo de situação. "Para suprir a mão de obra despreparada, várias organizações da área de TI elaboram programas de trainees com o objetivo de investir e preparar na própria mão de obra. Muitas delas estão criando a própria Universidade Corporativa com esse objetivo".

"O mercado necessita de pessoas que prosperem na mudança e que estejam comprometidas com a aprendizagem ao longo da vida", complementa Bernadete.

Características que farão o profissional se destacar

Em alta

Na contramão das profissões que devem sumir ao longo dos anos, o relatório da EY também traz uma lista com sete funções que serão populares em 2025. A demanda maior será por profissionais que lidem diretamente com tecnologia de ponta. Uma das mais curiosas é a de professional triber, que nada mais é que o profissional com competências para integrar equipes multidisciplinares em torno de um projeto comum.

Oliver também destaca a profissão de fazendeiros urbanos. "Imagine dentro de um centro urbano um hub de produção de alimentos que abasteça uma comunidade. Lá você terá plantações verticalizadas. Em São Paulo já temos alguns exemplos de cultivos verticalizados que têm produção agrícola no meio do centro urbano. Ou seja, o fazendeiro urbano é o cara que vai produzir algum alimento que vai ser consumido pela comunidade e fazer parte de uma cadeia produtiva".

A lista ainda traz profissões como professor freelancer, cuidadores, instaladores domésticos especializados em tecnologia, designer especializado em impressão 3D e designer de realidade virtual.