Diário do Nordeste Plus

Profissões de aeroporto

Além de piloto e copiloto, profissionais como agente de aeroporto e especialista em planejamento estratégico de malha são importantes para o desenrolar de uma viagem. No entanto, você já se perguntou como é a rotina dessas pessoas? Conheça os bastidores dessas profissões

Texto: Jacqueline Nóbrega

Mais do que somente piloto e copiloto, centenas de profissionais trabalham diariamente para que os passageiros tenham um excelente voo, desde sua chegada ao aeroporto. Durante o trajeto da viagem, agentes de aeroporto e comissários de bordo são importantes para o andamento da "carruagem", assim como os profissionais que trabalham com o estudo de rotas e escala, além do pintor de aeronaves.

Você já imaginou como é a rotina desses profissionais da aviação comercial, que muitas vezes passam despercebidos, mas são essenciais para uma viagem tranquila? Entre as profissões mais conhecidas, você sabia que nem todo mundo pode se tornar comissário de bordo? Existe um pré-requisito crucial para a pessoa assumir a função. Conversamos com especialistas que atuam no mercado, que nos contaram como funciona suas rotinas de trabalho, além de mostrarmos onde é possível, em solo cearense, fazer cursos para trabalhar na área.

Sonho realizado

Apesar do rosto jovem e da pouca idade, Marcílio Breno Soares já realizou sonhos a bordo de uma aeronave. Com apenas 17 anos se matriculou no curso que iria mudar sua vida. Hoje, com uma empolgação que contagia até o mais medroso quando o assunto é viagem de avião, fala sobre sua rotina como comissário de bordo com brilho nos olhos. O jovem sonha alto. Este ano se gradua em Ciências Aeronáuticas, pela Fundação Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul) e afirma, com veemência, que será piloto.

Marcílio é comissário de bordo e, durante suas folgas, é professor. Ele agora se prepara para se tornar piloto Foto: Yago Albuquerque

"Meus brinquedos preferidos sempre foram os aviões, desde pequeninho. Sempre que alguém da minha família viajava de avião, eu perguntava o que as aeromoças serviam, o que os comissários comiam, como eram as portas, o que tinha dentro da aeronave... Essa paixão nunca deixou de existir. Com 14 anos fiz minha primeira viagem, para o Rio de Janeiro, foi meu presente de aniversário e a minha vontade de voar só aumentou".

Após fazer o curso de comissário, logo passou na prova exigida pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e foi chamado para o primeiro teste. Atualmente é funcionário da Gol Linhas Aéreas e já completou sete anos de voo. Marcílio ainda é professor do curso de comissário da SAT: Escola de Aviação Civil. "Também sonhava em ser instrutor de treinamento da empresa. Quando abriu o processo seletivo, me inscrevi e fui aprovado em 2014. Dou aulas na escola nos meus dias de folga. Como eu sou de Fortaleza, todas as minhas folgas estou aqui".

"Passo três semanas do mês dando aula como instrutor e um mês voando como comissário normal. Nessas três semanas, há treinamento sempre, porque os quase quatro mil tripulantes da empresa aérea precisam revalidar a carteira anualmente ou reciclar os conhecimentos do avião".

A base de Marcílio é em São Paulo. Ou seja, todos os voos do comissário começam e terminam na capital paulista. "Eu fico até seis dias fora de casa, então é cada dia em um destino e em um hotel. Faço voos nacionais e internacionais e consigo aproveitar bastante. A gente passa pelo menos 12 horas em um local, de acordo com a nossa regulamentação, e, às vezes, conseguimos ficar mais, dependendo do dia. Se eu não voasse, eu não teria conhecido tudo que a minha função me apresentou. E nem falo só de cidades novas".

Quando questionado sobre o destino mais incrível que já conheceu, a resposta tá na ponta da língua: Orlando, nos Estados Unidos. "Cresci vendo os especiais da Disney nos programas de TV e eu sonhava em ir pra lá. Aquilo pra mim era inalcançável, mas quando me tornei comissário finalmente conheci o destino. Todos os voos que faço para Orlando, mato um pouquinho dessa cidade mágica. Confesso que se pudesse só viajava para lá".

Fascinado por pousos e decolagens

A paixão pela aviação de Bruno Balan veio da infância. Ele morava próximo do aeroporto e era fascinado pelos pousos e decolagens das aeronaves. No entanto, ele não queria ser piloto, já que se envolveu logo cedo com a área de Planejamento de Malha Aérea. "Queria entender o motivo que levava as pessoas a voarem entre aquelas cidades. Inclusive tinha revistas especializadas que mostravam os mapas de rotas das empresas aéreas. Isso sempre me chamou a atenção", conta o profissional, que hoje é especialista em planejamento estratégico de malha, outra profissão que passa despercebida pelos passageiros, mas é essencial no decorrer da viagem.

Bruno Balan é especialista em planejamento estratégico de malha Foto: Divulgação/Gol

O profissional se graduou na área de aviação civil em São Paulo. Ele indica a graduação para quem entrar no mercado, independente de qual caminho pretende seguir. "Do meu ponto de vista, ter uma formação no setor ou trabalhar na cadeia de suprimentos ligada à aviação pode ser um atalho, uma vez que a pessoa já está inserida na área. Além disso, considero que qualquer outra experiência na indústria é válida para que o profissional possa acumular competências, além da troca de vivências e aprendizagens entre os membros da equipe que é indispensável".

Por ser uma área que abrange vários aspectos da indústria aérea e inúmeras variáveis mercadológicas, não há uma formação específica para quem quer atuar no planejamento de malha aérea. "Trabalhando em nossa equipe temos economista, meteorologista, turismólogos e engenheiros, por exemplo".

A rotina de Bruno consiste em pensar em soluções de malha para aumentar a eficiência da companhia e assim atender melhor o cliente. "Estamos sempre avaliando de perto e em conjunto com as mais diversas áreas da empresa o comportamento dos mercados que atuamos, além dos nossos pontos de melhorias e nossas fortalezas para extração de valor. Além da gestão de oferta e qualidade da malha aérea, entre nossas funções também está a criação e manutenção de um plano estratégico de malha a longo/médio prazo. Também faz parte do nosso escopo elaborar relatórios de resultados e inteligência competitiva da malha".

Oportunidade de crescimento

Sérgio Cravo é coordenador do planejamento de escala de tripulantes de uma companhia aérea brasileira. Por mais curioso que pareça, a oportunidade de atuar na área da aviação surgiu quando ele ainda trabalhava com Recursos Humanos. "Por ser uma área que se relaciona diretamente com escalas de trabalho, a experiência em RH me permitiu conhecer esse novo mercado que estava carente de uma evolução em sistemas. Trabalho há 20 anos como planejador de escalas. Sendo, 13 anos a frente de uma equipe", contou.

A principal responsabilidade do profissional é mapear a escala da tripulação a longo prazo, tendo consciência do planejamento da malha aérea. "Também sou responsável pela organização do planejamento de capacidade de tripulantes, que envolve a organização de férias e treinamentos considerando um número adequado de tripulantes de acordo com a sazonalidade da malha aérea. Em meses de alta temporada, por exemplo, precisamos nos preocupar em manter uma equipe maior de colaboradores".

Sérgio Cravo trabalha à frente da equipe de planejamento de escalas de tripulantes Foto: Divulgação/Gol

Na opinião de Sérgio, as funções exercidas pela equipe de planejamento de escala são fundamentais para o bom funcionamento das operações da companhia aérea e para o cliente final. "Principalmente por se tratar de uma área estratégica que afeta diretamente a pontualidade e regularidade dos voos. Além disso, a minha função também preza pelo valor número um da empresa que trabalho, a segurança, já que somos responsáveis pela qualidade de vida da nossa tripulação, possibilitando adequação entre as necessidades da companhia e a satisfação dos colaboradores por meio da organização de escala de trabalho e folgas".

O profissional pontua que não existem cursos voltados para o profissional de escala, mas ressalta algumas características importantes para quem sonha em atuar na área. "Destaco alguns conhecimentos e habilidades que são necessários para quem pretende trabalhar com planejamento como raciocínio lógico, facilidade logística, que é importante para cobertura de toda a malha aérea, além de conhecimentos de lógica de programação, sistemas e matemática".

Rotina dinâmica

Talvez o nome Dayv Franco seja estranho para você. Já a alcunha "Vida de piloto" é conhecida por, pelo menos, mais de 90 mil pessoas, pelo menos no Instagram. O jovem criou um perfil nas redes sociais onde compartilha cada passo da sua rotina como piloto de uma companhia aérea internacional baseada no Panamá. Ele explica que resolveu criar os perfis na rede (também é possível acompanha-lo no Facebook) pois quando decidiu ser piloto não conhecia ninguém no meio, e queria compartilhar suas descobertas com outros usuários.

Dayv Franco (à direita) divide sua rotina nas redes sociais Foto: Reprodução/Instagram

"Quando decidi ser piloto, não sabia de nada e nem tinha conhecimento de como era essa vida. Naquela época quase não haviam pilotos que compartilhavam suas experiências na internet, e, com certeza, isso contribuiu muito para que a página tivesse um crescimento rápido, situação que jamais imaginei. Graças ao meu canal consegui transformar meu sonho realizado em incentivo para muitas pessoas que por algum motivo deixaram de acreditar em si próprio. Meu maior objetivo com tudo isso sempre será motivar pessoas a continuarem lutando pelos seus ideais", relatou ele.

O piloto atua em uma companhia aérea internacional atualmente Foto: Reprodução/Instagram

Dayv começou sua carreira na aviação há apenas seis anos. Primeiro, ele se graduou em Ciências Aeronáuticas e, em seguida, tirou sua carteira de piloto comercial. "Meu primeiro emprego foi como instrutor de voos por instrumentos no próprio simulador da universidade, onde tive a oportunidade de evoluir muito como profissional e conhecer pessoas da área. Naquela época, em 2011, o mercado estava bastante aquecido e depois de apenas três meses como instrutor, consegui meu primeiro emprego como copiloto de um KingAir B200GT baseado na Pampulha, em Belo Horizonte".

Um ano depois, ele foi para a empresa Líder Aviação voar um Learjet35. "Tive a oportunidade de fazer voos para Paris, Assunção, Lima e Maiquetia. Todos como transporte aeromédico. Em outubro de 2013, foi-me oferecida a oportunidade de mudar de equipamento e passar para o Premier1A da Beechcraft, outro jato, porém muito mais moderno. Nele, foram mais 1 ano e 4 meses até que, em janeiro de 2015, finalmente conquistei a realização de mais um sonho, talvez o maior deles, ingressar em uma companhia aérea internacional".

Dayv explica ainda que, como piloto, ele não tem rotina. E é justamente esse dinamismo que o encanta. "Em sete dias posso percorrer vários países, conhecer muitos lugares, climas e culturas diferentes. Muitas vezes estou voando enquanto muitos estão dormindo em suas casas, ou então, indo dormir enquanto todos acordam para trabalhar. É bem difícil no início, mas logo se acostuma".

Pintura é segurança

Fábio Manoel de Souza é pintor desde os 17 anos. No entanto, desde 2006, trabalha como pintor de aeronaves em uma grande companhia aérea brasileira. Engana-se quem pensa que o trabalho do profissional resume-se a estética. A pintura é uma questão fundamental para a viagem acontecer com sucesso, já que sua principal função é proteger a fuselagem da aeronave.

"Diariamente recebemos um briefing do nosso supervisor, mas um dia nunca é igual ao outro. Além da parte externa somos responsáveis pela pintura dos componentes internos da aeronaves, que necessitam de processos e tintas diferentes".

Fábio Manoel esclarece que a pintura da aeronave é essencial para a segurança do voo Fotos: Divulgação/Gol

Ainda de acordo com Fábio, sua profissão é fundamental, já que a primeira impressão é a que fica, como diz o velho ditado. "Se a aeronave não estiver com a pintura em dia o cliente pode ficar com uma impressão negativa da empresa".

Ele também ressalta que não existem cursos no mercado voltados especificamente para a área. O ideal é que o interessado tenha um certo conhecimento da função. Após entrar para a companhia aérea na qual trabalha atualmente, passou por aulas de aperfeiçoamento, oferecidos pela própria empresa. "O primeiro conselho que posso dar para quem pretende seguir na área é gostar do que faz e saber da responsabilidade da profissão".

Da moda para a aviação

Cecília Caroline de Macêdo deu uma guinada na vida e hoje se sente realizada na profissão que escolheu. Ela trabalhava na área de moda, quando decidiu, após um período desempregada, fazer os cursos para ser agente de aeroporto e comissária de bordo. "Fui até a escola pesquisar, saber os pré-requisitos. Primeiro fiz o curso para comissária, em quatro meses e, em seguida, fiz o de agente. As seleções para ser comissária acontecem com um maior intervalo de tempo. Não é corriqueiro", conta, sobre sua experiência.

Cecília Caroline de Macêdo atua como agente de aeroporto Foto: Yago Albuquerque

Atualmente ela já trabalha há três como agente e diz se identificar cada dia mais com a profissão. Cecília é uma profissional de solo, que trabalha diretamente com os passageiros e funções operacionais. "Na minha rotina eu atendo pessoas no check-in, por exemplo, atuo no setor de bagagens, rampa... Hoje fico mais na loja da companhia aérea. São várias funções. Antes de me tornar agente, já tinha trabalhado com pessoas. Eu comecei a me identificar e passei a gostar de trabalhar lidando diretamente com o público". Entre os planos para o futuro está o de fazer uma seleção interna para, finalmente, se tornar comissária. É justamente por isso que o cargo de agente pode ser tão almejado para os amantes da aviação comercial, porque ele é um "trampolim" para outros cargos dentro da companhia aérea.

É o caso de Daniel de Oliveira, que começou o trabalho em uma empresa de execução das operações de transporte aéreo como atendimento na área de carga e descarga de aeronaves. Ele passava pelo saguão do aeroporto e sonhava em ser uma das pessoas que atendiam os passageiros na área do check-in. Devido ao seu esforço, chegou onde almejava e virou uma referência. "Fiz uma seleção, fui chamado e iniciei como auxiliar e com o tempo fui crescendo e passando por outros cargos. Já passei pelo check-in, atendimento de loja, sala de embarque, revista", enumera ele.

Hoje Daniel é supervisor de agentes de aeroporto. "Temos a obrigação de manter a qualidade de atendimento para o cliente, além de coordenar tudo que é operacional para o atendimento da aeronave. A aeronave tem um tempo para ficar no solo, então resolvemos tudo naquele período determinado. Geralmente, quando o avião pousa, temos que verificar atendimento de check-in, finalização, ver como tá a sala de embarque, se já iniciou a entrada dos passageiro ou não. Estamos sempre a postos para resolver qualquer problema, seja atraso ou cancelamento de voo, por exemplo".

Daniel de Oliveira é supervisor de agentes de aeroporto e divide seu conhecimento com os alunos Foto: Yago Albuquerque

Ele ressalta que função exige que o profissional lide principalmente com pessoas. "Já tinha trabalhado como vendedor de carros, então isso pra mim de atender o cliente e trabalhar com o público era normal. Hoje, como supervisor, posso utilizar as técnicas de outros empregos para lidar com diferentes situações".

Cursos para o mercado

Em Fortaleza, atualmente existem três escolas certificadas pela Anac que oferecem cursos para agentes de aeroporto, comissário de bordo, piloto comercial, mecânico de aeronave, entre outros. O Aeroclube do Ceará, no entanto, informou por telefone que só voltará à abrir novas turmas no 2º semestre de 2017.

Já a Coordenadoria Integrada de Operações Aéreas (Ciopaer) pode formar integrantes da “Aviação de Estado”, que é o termo empregado para designar os órgãos de segurança pública e afins de todo o Brasil, como as Polícias Militar e Civil, Corpo de Bombeiros, Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Receita Federal, Ibama e órgãos governamentais de transporte.

A escola ministra cursos teóricos de Familiarização Técnica das aeronaves Airbus modelo AS 350 Esquilo, EC 135 e EC 145, além dos cursos práticos de piloto privado de helicóptero, piloto comercial de helicóptero e voo por instrumentos.

A SAT: Escola de Aviação Civil, de acordo com o diretor de ensino Francisco Monteiro, oferece os cursos de piloto, comissário, mecânica, atendimento, entre outros. Quem faz, por exemplo, as aulas para se tornar comissário, após a parte teórica passa por um curso de sobrevivência, que dura um fim de semana e acontece em Penedo, distrito de Maranguape, onde os alunos vivenciam situações como aprender a matar galinha e coelho, conseguir água na selva e até uma experiência de combate ao fogo.

De olho nas vagas

A Azul está com vagas abertas para comissários de bordo. A companhia faz o recrutamento ao redor do Brasil, mas a base onde esses comissários atuarão é em Campinas (SP). Veja as vagas no site da empresa. Já os interessados em trabalhar na Latam devem se cadastrar na seção Trabalhe Conosco, no site da empresa. As vagas disponíveis para a Gol podem ser vistas no site da companhia aérea.