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Texto: Aline Conde Publicado em 19.02.2018

Não chega a ser uma negociação, mas é bem parecido com isso, afirma a cearense Lya Sousa, 26 anos, sobre os acordos existentes em um relacionamento sugar, que compreende pessoas com diferenças de idade, buscando uma troca de interesse claro e transparente entre as partes. O relacionamento envolve amor, sexo, amizade, viagens, presentes, mesadas, entre outros. A Sugar Baby Lya conheceu o seu Sugar Daddy por meio do site Universo Sugar.

O que é um(a) Sugar Baby?

São mulheres ou homens jovens, atraentes, que possuem os objetivos estruturados e têm ajuda financeira do Sugar Mommy e/ou Daddy que se relaciona.

A nomenclatura do relacionamento define os/as Sugar Baby como jovens homens ou mulheres bonitos e inteligentes, que querem crescer profissionalmente e buscam um apoio financeiro para a sua vida. Na outra ponta estão os Sugar Daddy ou as Sugar Mommy, que são homens e mulheres, respectivamente, maduros, bem-sucedidos, em busca de um relacionamento leve e que não se incomodam em bancar financeiramente os babies.

No Ceará, há 1.813 mulheres e 471 homens cadastrados no site Universo Sugar, que tem foco especificamente em unir mulheres jovens e homens mais velhos. A maioria das mulheres cearenses que estão no site possui entre 21 e 25 anos, o equivalente a 39,8% das participantes. Já os homens, em sua maioria, possuem entre 42 a 65 anos de idade, sendo 42,9%. O site também revelou que 22,7% das mulheres são vendedoras e 17,4% são assistentes, enquanto 36,7% dos homens são empresários e 21,3% são engenheiros.

Perfil de ceareanses mulheres sugar babies

Formada em Gestão de Turismo e trabalhando em uma distribuidora de alimentos em Fortaleza, Lya Sousa conheceu o Universo Sugar através de uma amiga do Rio de Janeiro. Ela afirma que é importante entender que se trata de um combinado entre ambas as partes. “Tem que ser acordado entre os dois. Não vale só a palavra dele. A gente conversa sobre o que e como vai ser feito. Tem alguns que já não querem exclusividade, tem outros que querem. Temos que esclarecer tudo desde o início, para não ficar nada meio vago, possível de ser cobrado algo que não foi acordado”, explica Lya.

Perfil de idade de ceareanses mulheres sugar babies

Para ela, o relacionamento não visa apenas o financeiro. “É como se fosse uma amizade. Nessa amizade vai havendo as trocas, podem ser presentes, viagens, saídas em lugares melhores ou simplesmente coisas simples, nada muito luxuoso, uma lembrancinha para mostrar o carinho. Esse tipo de relacionamento não foca apenas no material. Eles querem a companhia, alguém para conversar. A gente não se envolve só pelo financeiro, óbvio que existe o financeiro, mas não é a prioridade”, explica a cearense, ressaltando que trabalha e tem uma vida estável financeiramente. “Eu não quero aquele luxo… Os que eu me relacionei me ajudaram na parte profissional, principalmente. Boa parte dos meus cursos foram os daddies que pagaram. Às vezes prefiro o curso que uma viagem”, revela.

Não tem como ter um relacionamento se você não tem um vínculo. Primeiro de tudo, é a questão do respeito e ter uma amizade. O sexo não é a prioridade, é mais a companhia, procuro conversar, sair, eu o escuto e vice-versa
Lya Sousa, Sugar Baby

Apesar dos acordos e interesses claros entre as partes, Lya comenta que, no Brasil, as pessoas ainda não entendem direito como é um relacionamento sugar. “Poucos homens entendem como funciona esse tipo de relacionamento. Acham que é tipo um programa, mais 'gourmetizado' e chegam até a ofender. Alguns entram no intuito apenas do sexo fácil ou algo parecido. Não entendem como é a relação e querem trocar foto e não é normal ficar trocando imagens”, comenta a Sugar Baby, ressaltando ainda que deve haver respeito entre o casal.

Perfil de ceareanses mulheres sugar babies

Faz 5 meses que Lya vive um relacionamento sugar com um engenheiro de Belém, que possui 48 anos. “Ele é super-respeitador, inteligente, bom de papo. Já viajei para Belém umas 7 ou 8 vezes. Fomos para São Paulo e viagens pelo estado do Ceará, para as praias daqui. Ele já me pagou cursos de várias áreas. Também me dá uma ajuda mensal, uma mesada. Quando ele está aqui em Fortaleza, a gente sai quase toda noite, vamos jantar fora, por exemplo”, comenta Lya.

IDADE | Daddies

Cerca de 83% dos homens cadastrados na plataforma têm entre 37 e 65 anos. Apenas 16,5% têm entre 30 e 36 anos.

Antes deste relacionamento, Lya também se envolveu com um outro Sugar Daddy, que era Capitão do Corpo de Bombeiros de Brasília. Os dois ficaram juntos por quase 2 anos. “No começo ele me ofereceu uma mesada, mas eu não quis. Então, ele pagou a minha faculdade toda de uma vez e pagou outros cursos que eu tinha interesse. Ele me dava de tudo, queria que eu parasse de trabalhar. Só que eu trabalho desde 13 anos e não me sinto à vontade de parar”, revela a cearense, comentando que o relacionamento acabou, mas que eles permanecem amigos.

“Não tem como ter um relacionamento se você não tem um vínculo. Primeiro de tudo, é a questão do respeito e ter uma amizade. O sexo não é a prioridade, é mais a companhia, procuro conversar, sair, eu o escuto e vice-versa. Se eu não sentir nada, ele pode querer me dar milhões de coisas, mas eu não me presto a ficar. Não vale a pena, vou estar sendo falsa, não vou me sentir bem. Eu também tenho que sentir prazer”, garante.

Como surgiu o relacionamento sugar?

Alma de Bretteville, uma moça de família muito humilde da Califórnia, é a primeira Sugar Baby que se tem notícia na história. Desde muito jovem, ela sonhava em encontrar um homem rico para se casar. Teve um relacionamento com Charlie Anderson, um homem maduro e bem-sucedido que a enchia de presentes, joias, casacos de pele, dinheiro e obras de arte.

O relacionamento chegou ao fim porque Alma queria se casar com ele, mas Charles não desejava o matrimônio. Quando ela completou 22 anos, conheceu o empresário Adolph Spreckles, de São Francisco. Ele era herdeiro de uma fábrica de açúcar, a “Spreckels Sugar Company”. Daí surgiu o termo "Sugar Daddy", que em tradução livre significa "papai de açucar".

A diferença de idade entre o casal era de 24 anos. Depois de um relacionamento de 5 anos, regado sempre de muitos mimos, Alma casou-se com Adolph e passou a ser a mulher mais rica da região. Nessa época, os americanos criaram o termo "Sugar Baby" (bebê de açúcar, em português) para se referir à mulher que era "patrocinada".

'Não procuro necessariamente um relacionamento sério', afirma Sugar Baby

Outra Sugar Baby cearense, Camila (nome fictício a pedido da entrevistada), 27 anos, também está na plataforma Universo Sugar. “São meninas, jovens, que procuram, de alguma forma, ter um relacionamento onde elas possam ter algum retorno financeiro, uma ajuda, possam ser mimadas, tratadas como princesas, por homens que vivam bem financeiramente, que possam proporcionar algo de bom e de engrandecedor. É isso que eu procuro no site, não necessariamente um relacionamento sério, mas me relacionar com alguém que possa me proporcionar algo engrandecedor”, define Camila.

Apesar de não assumir publicamente o relacionamento sugar, Camila conhece os filhos e frequenta a casa de seu Sugar Daddy, assim como ele frequenta a dela e conhece sua mãe

Assim como Lya, Camila também está em um relacionamento sugar, com um homem que possui 53 anos. “Ele é engenheiro civil e é muito bom comigo. Ele me trata bem, não me sufoca, nem me cobra tanto. A única coisa que ele me cobra é que eu realmente me dedique aos estudos, que eu coloque as responsabilidades em primeiro lugar. É uma pessoa que realmente está me fazendo muito bem”, explica a Sugar Baby que é estudante de Psicologia e trabalha de forma autônoma, vendendo roupas.

O relacionamento não é assumido publicamente, mas Camila já conhece até os filhos do seu Sugar Daddy e frequenta a casa dele, assim como ele frequenta a dela, conhece a mãe de Camila e os amigos mais próximos da universitária. “Só que nós não nos expomos em redes sociais nem coisas assim do tipo, porque eu acho que está muito recente e também pela forma que nós nos conhecemos, que eu preferi preservar”, diz.

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Como Sugar Baby, ela teve duas experiências e tem gostado bastante. "Já fui bastante ajudada. Através do site, eu posso dizer que foi muito positivo para mim as duas experiências. Foram pessoas bem bacanas, bem mais velhas que eu, mas que me tratavam muito bem, que me levavam em locais bons, que me ajudavam tanto financeiramente como profissionalmente. Como trabalho como autônoma, eu preciso de capital para as minhas vendas e me ajudaram nesse sentido. Fiz uma viagem para fora do Ceará, conheci São Paulo, que eu nunca tinha ido, e um dos daddies me proporcionou isso. Além disso, proporcionou também atividades extracurriculares, as quais eu precisaria participar e eu não teria condições, como congressos e palestras, que são pagos. Eles também ajudaram no meu vestir, no meu calçar e no meu lazer, me proporcionando passeios, eventos, me mimando com presentes, coisas as quais eu ainda não tinha experienciado antes”, destaca.

Ela comenta que indica para as amigas o site, mas pontua sempre cuidados que as Sugar Babies devem ter. "Eu confesso que eu tinha muito medo antes, mas algumas amigas me indicaram e testei e tive bastante sorte. Eu até indico para as minhas amigas, digo que não custa nada testar, só ter cuidado para não se expor muito. Quando for encontrar com a pessoa, nos primeiros encontros, sempre marcar em locais públicos, se puder nem ir sozinha, é melhor. Fazer tudo direitinho e ter muito cuidado, é uma coisa bem bacana, é algo sério, não é brincadeira, é uma coisa que realmente funciona”, ressalta.

Em busca de relacionamento leve, moderno e transparente

Além do Universo Sugar, há outros sites de relacionamento que possuem as mesmas características. Um dos mais conhecidos é o Meu Patrocínio. Nele há relacionamentos também de mulheres maduras (mommies) com rapazes jovens, assim como há a categoria gay, com homens maduros (daddies) com rapazes jovens (babies).

O que é um(a) Sugar Mommy/Daddy?

São mulheres ou homens maduros, bem-sucedidos profissionalmente e que não se incomodam de pagar coisas para os Sugar Baby que se relaciona.

De acordo com esta plataforma, a idade média dos Sugar Babies é 26 anos, já a idade média dos sugar Daddies é de 37 anos e das Sugar Mommies 45.

Empresária cearense do ramo de cosméticos, Fabiana Duarte, 46 anos, conheceu o site por meio de amigas. "Uma das minhas amigas começou a falar de um relacionamento com um rapaz mais novo e eu me interessei, achei muito legal a proposta", disse, contando que pediu a sua secretária para fazer o perfil dela no site Meu Patrocínio.

Hoje a gente não pode mais ter muitos problemas para se relacionar. Estou tentando algo mais leve e prático. Eu sou a provedora da relação e não tenho nenhum problema em falar isso
Fabiana Duarte, Sugar Mommy

Por sempre ir a São Paulo em viagens de negócios, ela acabou conhecendo o seu atual Sugar Baby lá, que tem 26 anos. "Bati o olho e vi que era ele. Nunca tive problemas com idade e com relacionamentos com caras mais novos. Contanto que tenha química, a idade é o de menos", comenta. "Hoje a gente não pode mais ter muitos problemas para se relacionar. Estou tentando algo mais leve e prático. Eu sou a provedora da relação e não tenho nenhum problema em falar isso". Ela destaca que a forma de relacionamento é um dos grandes "insigth" das mulheres modernas e independentes". "Nós queremos relacionamento com liberdade", afirma. A empresária proporciona muitas viagens ao seu Sugar Baby, que é estudante e atualmente está desempregado, e não tem constrangimento de dizer que banca tudo.

"É uma relação mais aberta. Bem leve e sem transtornos. É mais o prazer do convívio e a diversão. Sempre que eu posso proporciono viagens e ele gosta muito. Não o deixo gastar. Levo para bons restaurantes e bons hotéis, já dei presentes, como relógio, mas as viagens são as mais emocionantes", revela.

No Ceará, cadastrados na plataforma Meu Patrocínio, temos:

6.552

Sugar Babies

93

Sugar Mommies

840

Sugar Daddies

Além da leveza em uma relação, a procura por alguém que não fizesse cobranças foi mais um motivo para a arquiteta e empresária paulista Ana Lúcia (a entrevistada pediu para não incluir seu sobrenome), 52 anos, entrar no site Meu Patrocínio. "Eu estava querendo alguém que fosse mais jovem, que fosse uma pessoa com a qual eu pudesse ter um relacionamento despretensioso, uma companhia agradável, alguém que trouxesse um pouco mais de alegria para a minha vida", revela ela, ao falar de suas intenções em relação ao site.

Vamos combinar que as relações envolvem trocas. Por todo o tempo que eu fiquei casada com o meu ex-marido, a gente negociava tudo. É engraçado porque quando a gente fala em casamento não existe nenhum preconceito com relação a questão financeira
Fabiana Duarte,Sugar Mommy

A paulista se relaciona com um Sugar Baby de 28 anos. "Ele está em início de carreira, é administrador. Foi uma pessoa que bateu uma química logo no primeiro encontro. É um cara divertido, muito bem-humorado, a gente se diverte muito juntos e tem sido uma companhia agradável. Se você me perguntar qual é a troca que rola, é a companhia. Ele está montando o primeiro apartamento e, como eu tenho uma loja de decoração, acabei ajudando em algumas coisas, com orientação. A gente tem viajado bastante juntos, tenho uma casa de praia e ele adora surfar, então acabou virando uma ótima companhia", relata a arquiteta, comentando que não se incomoda em pagar as contas. "Não estou procurando alguém para me casar, não penso mais nisso. O que eu quero é uma boa companhia", revela Ana, que já foi casada e se separou há 7 anos. Ela possui dois filhos adultos do antigo relacionamento.

Cearenses cadastrados no site na categoria gay:

1.760

Sugar Babies

48

Sugar Daddies

Ana ainda pontua que todos os relacionamentos são baseados em trocas, inclusive os casamentos. "Vamos combinar que as relações envolvem trocas. Por todo o tempo que eu fiquei casada com o meu ex-marido, a gente negociava tudo. É engraçado porque quando a gente fala em casamento não existe nenhum preconceito com relação a questão financeira", afirma.

Ressaltando que precisa ter afinidade mesmo em um relacionamento sugar, Ana Lúcia compara os sites sugar com os de relacionamentos comuns. "A diferença maior é a questão da transparência e a clareza de objetivos. Saindo com outras pessoas via outros aplicativos, o que eu percebia é que muitas vezes quem bancava as coisas era eu e a pessoa acabava usando uma série de subterfúgios para conseguir o que queria. Aqui a coisa está bem clara e é colocada desde o início da relação", comenta.

Os sites, geralmente, cobram uma taxa apenas para os Sugar Mommy/Daddy que desejam se inscrever e conhecer os babies. Em alguns deles é disponibilizado até a ficha criminal do(a) baby.

A reportagem tentou entrar em contato com Sugar Daddies e Babies homens, mas eles não quiserem conceder entrevista.