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Colaborou: Allan de França
Texto: Hugo Renan do Nascimento Publicado em 11.09.2017

Antes mesmo de se tornar um dos esportes mais populares dos Estados Unidos e ganhar fama em diversos países do mundo, o futebol americano passou por muitas fases que culminaram com a consolidação atual, como um dos mais lucrativos para a indústria esportiva e publicitária norte-americana.

Como resultado deste sucesso, muitos países formaram equipes, ligas e federações para organizar e difundir a cultura do futebol americano. No Brasil, por exemplo, o esporte vem ganhando espaços e construindo um caminho próprio. De acordo com a Confederação Brasileira de Futebol Americano (CBFA), a modalidade teve início no Brasil no começo dos anos 90, nas praias do Rio de Janeiro.

Não há pagamento para os jogadores de futebol americano no Brasil

A partir daí o futebol americano se espalhou por algumas regiões do País. A CBFA explica ainda que no Sul, o esporte teve o primeiro jogo equipado na década de 2000.

Segundo a Confederação, existem atualmente no País, filiados à CBFA, 150 times. Além disso, há ainda outras 60 equipes, entre masculinas e femininas, 60 times do flag football, modalidade em que no lugar de derrubar o jogador com a bola ao chão, o defensor deve retirar uma fita (flag) para parar um down.

Em campeonatos nacionais, são 30 times na Brasil Futebol Americano (BFA), 30 na Liga Nacional e 10 na Liga Nordeste. De acordo com a Confederação, mais as filiadas através das federações que não entram no nacional seriam em torno de 80 equipes. O número pode dobrar caso sejam contados os times que não são filiados.

Ainda segundo a CBFA, não existem jogadores profissionais no Brasil. "O esporte é amador. Ninguém recebe para jogar. Até tem alguns gringos que são 'contratados' por equipes, mas nada que considere ainda um nível profissional", informou a Confederação.

Campeonatos

Ceará Caçadores
Jogadores do time Ceará Caçadores treinam no Estádio Presidente Vargas (PV), em Fortaleza FOTO: SAULO ROBERTO

Existem três modalidades do esporte no Brasil: o futebol americano equipado (como a NFL), o futebol americano de praia e o flag football (modalidade sem contato, mais leve). Chancelados ou organizados pela CBFA existem quatro nacionalmente. No futebol americano (também chamado por tackle football ou full pads), tem a BFA (equivalente à antiga Superliga, ou seja, 1ª divisão do esporte), a Liga Nacional (2ª divisão) e o Torneio Endzone (Campeonato Brasileiro Feminino de futebol americano).

Além dos nacionais, tem os mais regionalizados, como Liga Nordeste e os campeonatos estaduais organizados por cada federação ou Estado.

De volta ao âmbito nacional, no flag football, tem o Circuito Nacional de Flag 5x5. E também alguns mais regionais, como Campeonato Paulista, Liga Nordeste e Liga Catarinense.

No futebol americano de praia há apenas o Campeonato Carioca.

Crescimento do esporte no Brasil

A prática do esporte vem crescendo bastante no País, apesar de atualmente, segundo a Confederação, estar passando por um momento de leve estagnação e algumas mudanças. "Hoje em dia a maioria das equipes, principalmente masculinas, já tem uma boa estrutura, conta com reforços, "contrata" jogadores de outras equipes ou de fora do País. Mas ainda falta muito para que o esporte se aproxime dos esportes olímpicos ou do futebol profissional", informa a CBFA.

A bola do futebol americano é oval para girar em torno de seu eixo quando lançada no ar FOTO: SAULO ROBERTO

""A Confederação, assim como as equipes, está fazendo o máximo para fazer o esporte evoluir e se organizar e profissionalizar cada vez mais. Mas não é uma tarefa fácil, com certeza. E bem ou mal, a CBFA ainda é uma confederação bebê. O futebol americano é um dos esportes mais novos (se não o mais novo) do Brasil. A Confederação, mais nova ainda. Então, ainda há um longo caminho a percorrer".

De volta ao âmbito nacional, no flag football, tem o Circuito Nacional de Flag 5x5. E também alguns mais regionais, como Campeonato Paulista, Liga Nordeste e Liga Catarinense.

De acordo com a CBFA, "ainda faltam empresas que acreditam que o esporte tem potencial, que seria uma boa patrocinar a equipe da cidade ou uma equipe boa e, inclusive, TVs que queiram fazer transmissões dos jogos. Apesar de teoricamente demorado para a TV, é um jogo com bastante apelo de público e que poderia ser bem explorado pela publicidade, como fazem nos EUA".

Público cresce

Segundo informações da Confederação Brasileira, nos últimos anos foram registrados recordes de público em estádios olímpicos. Dados apontam que a grande maioria dos jogos consegue um público estimado entre 2 a 5 mil torcedores.

"É perceptível que os locais onde o futebol (soccer) está menos presente são justamente aqueles que conseguem atrair melhor o público torcedor da cidade", informou a Confederação.

"Algumas equipes do Sul ou do Interior têm o hábito de viajar com um ou dois ônibus de torcida, assim como acontece no futebol. Com a verba das entradas, as equipes pagam o aluguel do estádio", acrescenta.

Conheça as regras do futebol americano

JOGADORES

Cada equipe tem três times diferentes. O time de ataque, o time de defesa e os times especiais que só entram em campo em situações de chute. Cada time vai ter sempre 11 jogadores em campo.
jogos

Fumble

É a perda acidental da bola no meio de uma jogada.

Interceptação

Perda acidental da bola durante o lançamento.

Downs

A equipe precisa avançar pelo menos 10 jardas em quatro tentativas (downs). Caso não consiga, é obrigado a ceder a bola ao adversário.

Touchdown 6 pontos

É marcado sempre que um time conduz a bola além da linha de fundo do adversário (endzone)

Extra point 1 ponto

A equipe que acaba de marcar um touchdown recebe também a chance de chutar a bola entre as traves. Caso acerte, ganha mais um ponto.

Conversão de 2 pontos 2 pontos

No lugar de tentar o extra point, o time que marcou um touchdown pode tentar um novo touchdown, partindo da linha de duas jardas.

Field goal 3 pontos

A qualquer momento, o time de posse da bola pode executar um chute com a bola partindo do chão. É preciso acertar entre as traves.

Safety 2 pontos

Acontece quando um jogador do ataque que está com a bola é derrubado na sua própria endzone.

A união faz a força

Fundada em 10 de dezembro de 2013, o Ceará Caçadores foi resultado da união de dois times do Estado. Segundo Gilmar Santos Silva, jogador mais antigo do time e membro da diretoria, os rivais Ceará Cangaceiros, criado em 2002, e o Dragões do Mar de Fortaleza, fundado em 2007, se uniram com o objetivo de tornar o time mais competitivo nacionalmente.

Gilmar, que estava presente na criação do Caçadores, gosta do esporte desde criança. “Eu já gostava quando jogava videogame, mas o primeiro jogo que eu assisti foi em 1993, o Super Bowl e gostei mais ainda”. Ele lembra que soube da existência de times no Estado em 2005, enquanto assistia a um jogo na TV, quando um comentarista mandou um abraço para o Ceará Cangaceiros. “Eu fui no Orkut e mandei uma mensagem que o pessoal demorou uns três meses para me responder”. Gilmar recorda que depois que foi ao primeiro treino nunca mais saiu do esporte. “Estou lá até hoje”.

Atualmente jogando como cornerback, Gilmar pontua que nunca foi atleta, mas que sempre praticou esportes. “Principalmente futebol de campo, mas também joguei vôlei e basquete”. Ele explica que o Cangaceiros foi o primeiro time do Norte/Nordeste, mas que não tinha grandes objetivos. “A gente praticava porque gostava mesmo”. De acordo com ele, hoje é bem mais fácil em comparação ao que antes. “Antigamente a gente treinava sem equipamento, então muita gente achava arriscado e tinha medo de se machucar”. O cornerback afirma que a prática do esporte atualmente é bem mais segura.

Desenvolvimento

Gilmar explica que hoje o Ceará Caçadores tem duas equipes, o time principal e o time de desenvolvimento. “No início do ano a gente fez uma seletiva e separou o pessoal em dois níveis. Quem mostrou um pouco mais de habilidade foi direto para o time principal e os outros a gente está treinando no time de desenvolvimento”. Segundo ele, o objetivo é levar esses novos atletas para o time principal em 2018 ou 2019. “São pessoas que vimos potencial para trabalhar”.

Os treinos das equipes acontecem no mesmo local. O time principal treina à tarde e o de desenvolvimento pela manhã. “Eles ainda não participam do campeonato, mas são os jovens do futuro”. O cornerback revela que no início eles treinavam sem equipamento, numa modalidade chamada flag, em que não acontece contato. “Eles vão aprender a parte técnica e a parte prática do esporte e à medida que progredirem, vão para o time principal”. Como para participar do campeonato é necessário ter 18 anos, Gilmar esclarece que muitos jogadores do time de desenvolvimento têm entre 16 e 17 anos. “Esse é o nosso trabalho com a juventude”.

Não é um esporte de força não, nem sempre quem tem mais força é o que ganha. Tem muita estratégia envolvida
Gilmar Santos Silva, cornerback do Ceará Caçadores

“Desde que a gente veio para o PV (Estádio Presidente Vargas), a receptividade do público tem sido bem melhor, o pessoal participa”. Gilmar revela que os comentaristas dos jogos são ex-atletas, que aproveitam para explicar para o público as regras e as jogadas. “À medida que o pessoal entende, eles vão gostando cada vez mais e voltam para assistir aos jogos”. Ele explica que o feedback tem sido forte, principalmente pelas postagens em redes sociais, onde cada vez mais o público tem interagido.

Apesar do apoio do público nem tudo são flores. Gilmar, que além de cornerback e membro da diretoria do time também é supervisor de operações da Ecofor, explica que muita coisa ainda é paga do bolso dos atletas.

“Quando a gente vai jogar, normalmente pagamos todas as taxas, o aluguel do estádio e o pessoal que vai trabalhar no jogo. Pelas regras do campeonato é obrigado ter ambulância, a gente paga também”.

Segundo ele, o mesmo acontece nas viagens. “Quando tem aluguel de ônibus todo mundo se junta e cada um dá um pouquinho para poder bancar”. Ele revela que o que tem aliviado um pouco as despesas são os produtos com a marca do time, que têm produzido uma renda extra.

Os atletas

Quando começou a jogar futebol americano aos 14 anos de idade, Romário Reis, 23 anos, atualmente quarterback do time Ceará Caçadores, já sabia o que queria: lançar a bola. Considerado 'gordinho' pelos colegas e 'baixinho' para os padrões do esporte, Romário deu início a uma longa jornada que o levaria a passar por todas as posições do futebol americano. "Ninguém me levava a sério e nem me deixava lançar a bola. Foi aí que com o passar do tempo eu dei uma esticada", conta.

Logo no começo, nem a mãe e nem os amigos, gostaram da ideia de ser jogador de um esporte considerado 'violento'. "Louco", era o que diziam. Mas o que não sabiam é que o futebol americano tornou Romário um dos jogadores mais importantes da equipe.

Na seletiva para o Ceará Caçadores, em 2014, Romário se preparou para se tornar quarterback. "Eu jogava em outro time e fiquei sabendo da seletiva do Ceará Caçadores. Quando eu vim fazer o teste aqui, meu objetivo era ser o quarterback. Me preparei para isso e desde a fundação eu sou o quarterback", explica.

Mas nem por isso as dificuldades acabariam. Romário afirma que já usou as chuteiras como bola. Equipamentos: não tinha. Também não havia local adequado para a prática do esporte. Hoje, segundo ele, é mais fácil.

"As maiores dificuldades sempre vão ser a falta de apoio, a falta de coisas básicas. Hoje já é mais fácil. Já temos equipamentos e campo para treinar".

De acordo com ele, a viagem para as competições nunca está garantida. "Muitas vezes a gente tem que pagar as viagens. Nós sempre damos um jeito para conseguir viajar. Este ano tivemos problemas com o ônibus, por exemplo".

Sem salário, atualmente, Romário dedica 100% do tempo livre para o futebol americano. Ele quer voltar para a faculdade de Administração no próximo ano. Diz que tem a veia administrativa para os negócios, herança de família. Mas também planeja voar mais alto e jogar fora do Brasil. "Até 2019 eu quero jogar a Copa do Mundo", diz.

Pressão de ataque e agilidade são duas características similares de uma cozinha e do campo de futebol americano. Para Silvio Lopes, chef de cozinha e jogador do time de desenvolvimento do Ceará Caçadores, os dois ambientes têm muito em comum.

"São dois ambientes de muito 'frisson'. Além disso a gente trabalha com as mãos. Mas o futebol americano, para mim, é uma válvula de escape", completa o paraense que vive em Fortaleza há dois anos e meio.

Silvio Lopes é chef de cozinha e 'Caçador' do futebol americano nas horas vagas. FOTOS: ARQUIVO PESSOAL / SAULO ROBERTO

Novo no esporte, ele conta que entrou para o time de desenvolvimento no início deste ano. "Fiz a seletiva que o time abriu e fui aprovado. A partir daí eu comecei o processo de treinamento. Hoje eu estou na equipe de desenvolvimento almejando entrar para o time principal. A pessoa que não conhece o futebol americano e passa a conhecer se encanta muito. É um jogo interessante em termos de estratégia. É uma ação diferente", afirma Silvio.

O chef jogador também conta que no time de desenvolvimento ele não tem uma posição específica. "Existem algumas características de cada jogador em que a comissão técnica avalia. No meu caso, que sou um jogador de porte maior, mais pesado, digamos assim, sou deslocado para ser um jogador de defesa", explica.

Silvio planeja que até o próximo ano ele já esteja no time principal do Ceará Caçadores. "Estamos trabalhando para isso. Não vou deixar de me esforçar. Pelo contrário, o desafio é ainda maior representar essa equipe".

Dançar balé e praticar futebol americano podem ter algumas coisas em comum. Para o cornerback do Ceará Caçadores, Everson Lincoln, 22 anos, competitividade e força nas pernas são características das duas atividades. "Eu sempre dancei. Passei pelo hip hop, balé. Quando eu tinha 13 anos comecei a jogar futebol americano. Dei um tempo porque o balé já estava muito profissional", acrescenta.

Treinar os saltos da dança ajudou o jogador a se firmar. "O balé me ajudou muito na questão do time. Treinava muito a força na perna, o salto", explica.

Everson Lincoln já foi bailarino por muitos anos e atualmente é cornerback do Ceará Caçadores. FOTOS: ARQUIVO PESSOAL / SAULO ROBERTO

Teve de parar o balé para se dedicar ao esporte. "O futebol americano está na veia. Mesmo que eu pare de jogar eu vou continuar acompanhando".

Everson conta ainda que se interessou pelo futebol pela diversidade de posições e pela questão da estratégia. "A gente tem que estudar muito e aprender coisas novas".

O jogador afirma também que começou a treinar no Fortaleza Carcará, depois no Fortaleza Lions e por fim no Maracanaú Predadores. Foi então que fez a seletiva do Caçadores e entrou para o time principal. "O incentivo que eu dou é você abrir a cabeça para conhecer o futebol americano. Não é só pancada. Eu nunca me machuquei e nem machuquei ninguém. É totalmente estratégico. É um jogo que a gente se prepara muito".

Talon Roggasch é o único jogador norte-americano atualmente no Ceará Caçadores. O estrangeiro está no time há um ano e meio e começou a praticar o esporte quando tinha cinco anos na modalidade flag, sem contato físico. Quando fez 12 anos, ele lembra que conseguiu o próprio equipamento. “Aí eu mudei para o jogo de verdade”. Nascido em Silverthorne, no Estado norte-americano do Colorado, ele conta que criou um perfil em um site onde jogadores de futebol americano se cadastram para jogar fora do seu país. Roggasch revela que queria ir pra Europa, mas quando recebeu a ligação dos cearenses não pensou duas vezes. “Ligaram para mim perguntando se eu queria jogar aqui e eu aceitei na hora”.

"Eu jogo de graça aqui, eu quero só ajudar e ensinar todo mundo como jogar direito e também a cultura do futebol americano
Talon Roggasch, jogador norte-americano do Ceará Caçadores

Talon não recebe salário. O acordo que fez com o time abrange apenas acomodação e alimentação. “Eu jogo de graça aqui, eu quero só ajudar e ensinar todo mundo como jogar direito e também a cultura do futebol americano”. O atleta, que joga como wide receiver, conta que dá aulas de inglês para cobrir outras despesas no Brasil, mas que quando volta aos EUA trabalha em um resort na cidade natal. “Sou garçom por três meses na temporada de neve, no fim do ano”. Ele explica que começa às 10 da manhã e só vai para casa à meia noite. “Trabalha muito, mas ganha muito também”.

Sobre a saudade de casa, o americano diz sentir todo dia. “Minha mãe tem muito orgulho que eu estou fora do país, viajando o mundo e fazendo o que eu amo, jogando e ajudando pessoas a aprender mais sobre o futebol americano”. Apesar de gostar do Brasil, Talon revela que adora a neve e que tem muita dificuldade com o calor. “Com zero grau eu tiro a blusa, para mim é calor. Já -5º ou -10º é uma temperatura normal”. Ele explica que a transição do clima frio para o quente foi mais difícil do que a barreira da língua. “Quando eu volto dos EUA, eu sempre fico desidratado nas duas, três primeiras semanas”.

Ele conta que a recepção foi muito boa. “Quando eu cheguei, eu já senti que fazia parte de uma nova família e eu gosto disso nos brasileiros, todo mundo abraça e oferece ajuda”. Apesar de sentir falta da família, Talon revela que não tem vontade de ir embora. “Eu acho que estou viciado em morar no Brasil porque gosto da aventura, a vida é muito mais fácil nos EUA”.

De brincadeira à coisa séria

“A gente começou no início de 2016 com um grupo de amigos que queriam “rachar”, praticar uma atividade física através do futebol americano”, explica Magnum Bezerra, 32, presidente do Fortaleza Tritões. Ele lembra que não esperava juntar tanta gente. “A gente foi chamando amigos, que chamaram outros amigos e a coisa foi tomando forma”. Magnum esclarece que decidiram se organizar melhor, mas a intenção inicial era criar um projeto de iniciação ao futebol americano. “As pessoas vinham, aprendiam o esporte e a partir daí buscavam outros times que já estão consolidados no Estado”.

Em nove meses veio a mudança. “A gente queria dar um novo passo, tomar outro rumo. Foi aí que decidimos nos tornar um time”. O presidente conta que está tomando todas as providências para serem reconhecidos o mais rápido possível pela Confederação Brasileira de Futebol Americano (CBFA). “Nós estamos nos adaptando às atuais exigências da CBFA e esperançosos de que em 2018 já estejamos em alguma liga”.

Segundo Magnum, o futebol americano tem tomado uma proporção galopante no Brasil. “Há pouco mais de sete ou oito anos você não encontrava venda de equipamentos e não tinha um espaço para treinar, era tudo muito no improviso”. Ele pontua que o time tem a sorte de estar em um momento em que o futebol americano já encontra espaço, uma organização bem mais consolidada e agradece aos companheiros de esporte. “A gente fica muito feliz porque pegamos muita coisa já desenvolvida por outros times e isso é bom para o esporte como um todo”.

Público cresce

O presidente do time pondera que o esporte ainda abre a diversidade para outras pessoas, mas não apenas por ser mais uma possibilidade de atividade física. “O bacana do futebol americano é que tem espaço para todos, para o mais magro, que corre rápido e para o gordinho, que às vezes é excluído das atividades”. Ele explica que pessoas de qualquer biotipo podem jogar e faz um apelo. “A gente precisa muito de atletas acima dos 100 quilos”.

Fortaleza Tritões
O time amador, que começou como um encontro entre amigos, está se organizando para ser reconhecido pela Confederação Brasileira de Futebol Americano
O Fortaleza Tritões se reúne às terças e quintas às 19h no Aterro da Praia de Iracema e aos sábados às 18h no campo do Asas, na Cidade dos Funcionários

“Para participar dos treinos basta ter 16 anos e um protetor bucal, que é o quesito mínimo de equipamento que a pessoa precisa ter para treinar conosco”, explica Magnum.

Jefferson Silva, que joga como Tight End do Ceará Caçadores, é o treinador da equipe. “A gente tem muita sorte do Jefferson ser o nosso técnico porque ele tem uma bagagem riquíssima, além de já ter sido convidado a participar de vários treinos da seleção brasileira de futebol americano”.

Sobre a dinâmica do jogo, Magnum explica que o futebol americano não é um esporte violento, e sim um esporte de contato. “Pode parecer que existem machucados, mas pelo contrário, raramente a gente se lesiona. Existem lesões, mas como em qualquer outro esporte”.

Fora do campo Magnum, que joga na posição running back, é inspetor de polícia e explica que acabou ficando na organização do time. “Hoje em dia eu me sinto muito mais presidente do Tritões do que policial, é uma coisa que me completa”.

Futebol americano: a história

O futebol americano como é conhecido atualmente surgiu a partir do rugby e do futebol tradicional. No século XIX muitos jovens norte-americanos de famílias ricas iam à Inglaterra estudar. Quando voltavam para casa levavam dois esportes: o futebol tradicional, com a bola redonda, e o rugby football (que usava a bola oval e que permitia usar as mãos para carregá-la).

Dessa forma, os dois esportes se espalharam pelos Estados Unidos. A partir de 1876, representantes de universidades americanas padronizaram o "American football". Foi nesta época que se adotaram algumas regras que são conhecidas atualmente, como os downs. Naquele período, o time tinha três chances para avançar pelo menos cinco jardas. Hoje são quatro chances para 10 jardas.

Na década de 1890, formações ofensivas entrecruzadas como a cunha voadora, espécie de salto com uma das pernas contra o jogador adversário, tornaram o jogo extremamente perigoso. Apesar de terem sido implantadas restrições à cunha voadora e outras precauções, em 1905 dezoito jogadores foram mortos em jogos. O presidente Theodore Roosevelt informou às universidades de que o jogo teria de ser mais seguro. No entanto, foi só em 1910, depois de mais mortes, que as formações entrecruzadas foram banidas.

Tom Brady, quarterback do New England Patriots, time atual campeão do SuperBowl. Ele tem 5 títulos em 7 finais disputadas Foto: Getty Images

O passe de costas foi colocado em 1906. Em 1912 o campo foi colocado nas suas dimensões anteriores, o valor de um touchdown foi aumentado até aos 6 pontos, e acrescentou-se um quarto down.

Nas décadas subsequentes, o futebol americano passou por diversos desafios, como a profissionalização dos times e dos jogadores, além da reorganização dos campeonatos e regras mais claras.

A partir de 1933, a National Football League (NFL) endureceu a administração e muitos times desapareceram. A bola ficou menor e mais pontuda. Muitos jogadores tinham que passar por pelo menos quatro anos de estudo e obedecer a ordem de escolha da pior campanha para a melhor, para serem recrutados pelas equipes profissionais.

A 2ª Guerra mudou as regras

Em 1942, os Estados Unidos entraram para a Segunda Guerra Mundial e muitas mudanças aconteceram no esporte.

Cerca de 600 jogadores tiveram que ir para o campo de batalha e abandonar as equipes lutar na guerra.

Foi nessa época que a NFL permitiu as substituições ilimitadas, surgindo assim os times de ataque e de defesa. Essa mudança se tornou definitiva em 1950.

A partir da década de 50, houve uma grande briga com o beisebol pela audiência. O beisebol até então era o esporte favorito dos americanos.

Neste período a NFL conseguiu o apoio da televisão para a transmissão dos jogos para todo o país. Grandes nomes surgiram e se tornaram muito famosos.

NFL ganha uma rival

Tight end do New England Patriots, Rob Gronkowski, erguendo o troféu do 50º Super Bowl Foto: Reuters

O boom da década de 50 fez com que muitos times se formassem. Muitos deles tentaram se filiar à NFL e foram recusados. Nesse contexto surgia a American Football League (AFL).

A AFL foi responsável por algumas inovações, como a conversão de dois pontos e o marketing com nomes dos atletas nas camisas.

Após alguns anos de rivalidade, a AFL e a NFL acertaram as contas com a criação do Super Bowl. O jogo era disputado pelo campeão da AFL com o NFL para definição do campeão nacional.

A unificação total ocorreu no fim da década de 60, quando as equipes se reuniram. Agora, os times das duas ligas jogam entre si durante a temporada. A audiência televisiva dobrou e o futebol americano se firmou como o esporte favorito dos norte-americanos.

Super Bowl

Katy Perry no intervalo do Super Bowl: ela é a recordista do Show do Intervalo, o Halftime Shows, com 118,5 milhões de telespectadores durante a apresentação dela Foto: USA Today

Conhecido como o maior evento desportivo dos EUA, o Super Bowl é a final do campeonato da NFL, hoje a principal liga de futebol americano dos Estados Unidos. Assistido anualmente por milhões de pessoas em todo o mundo, o evento foi criado em 1967, mas se tornou oficial apenas em 1970, com a fusão da NFL com sua rival AFL.

Segundo dados do departamento de agricultura dos EUA, o Super Bowl Sunday, como é conhecido o dia do evento, é o segundo dia do ano com o maior consumo de alimentos do país, perdendo apenas para o Dia de Ação de Graças. O Super Bowl também é o evento televisivo mais assistido do país norte-americano. Das 20 transmissões mais assistidas da história dos EUA, 19 são Super Bowl's e o record de audiência é do evento de 2015, com uma média de 114,4 milhões de espectadores e um pico de 120.7 milhões. Por conta disso, o evento também tem o horário comercial mais caro da televisão estadunidense, que desde 2016 cobra mais de US$ 5 milhões por uma propaganda de 30 segundos durante o Super Bowl.

Durante o intervalo, acontece o Halftime Show, onde grandes artistas fazem performances para entreter o público enquanto a segunda metade do jogo começa. Já passaram pelo palco do Super Bowl nomes como Michael Jackson, Christina Aguilera, Enrique Iglesias, Justin Timberlake, Britney Spears, Madonna, The Rolling Stones, Coldplay, Bruno Mars, Beyoncé, Lady Gaga e Katy Perry, que detém a maior audiência da história dos Halftime Shows, com 118,5 milhões de telespectadores durante sua apresentação em 2015.

ANO TELESPECTADORES (JOGO) ATRAÇÃO PRINCIPAL TELESPECTADORES (INTERVALO) CUSTO / PROPAGANDA DE 30s (U$$)
2017 111.3 milhões Lady Gaga 117.5 milhões 5.02 milhões
2016 111.9 milhões Coldplay 115.5 milhões 5.01 milhões
2015 114.4 milhões Katy Perry 118.5 milhões 4.5 milhões
2014 111.5 milhões Bruno Mars 115.3 milhões 4 milhões
2013 108.69 milhões Beyoncé 110.8 milhões 4 milhões
2012 111.3 milhões Madonna 114 milhões 3.5 milhões