Publicado em 04.09.2017

Comer é sem dúvida um dos maiores prazeres de ser humano. Aquela picanha com gordura, a batata frita bem crocante ou aquele sorvete de leite ninho na casquinha deixam qualquer um com água na boca e o pensamento nas nuvens. Mas como diria o ditado, “tudo demais é veneno” e até mesmo a alimentação deve seguir regras para que o corpo não adoeça. Tomar cuidado é essencial, já que o sobrepeso e a obesidade cresceram muito nos últimos 10 anos. Dados da Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) mostram que a obesidade no Brasil passou de 11,8% em 2006 para 18,9% em 2016. O excesso de peso também subiu de 42,6% para 53,8% no período.

Ou seja, a cada cinco brasileiros, um está obeso e mais da metade da população está acima do peso. Isso reflete diretamente na saúde do cidadão. Ainda segundo a Vigitel, o diagnóstico médico de diabetes passou de 5,5% em 2006 para 8,9% em 2016 e o de hipertensão de 22,5% em 2006 para 25,7% em 2016.

Não é simplesmente o fato de dizer o que ele vai comer, é o incremento de um novo estilo de vida que deve ser feito de uma forma gradativa
Davi Trompieri, nutricionista

Os números são alarmantes e as pessoas têm procurado diversas formas para “se cuidar”. Mas segundo o nutricionista Davi Trompieri, as dietas da moda nem sempre são as melhores opções. Existem diversas informações na internet sobre essas novas maneiras de perder peso, mas quais delas são verdadeiras e quais são falsas? Existem meias verdades?

A primeira coisa que Davi desmistifica é sobre o trabalho do nutricionista. Não, ele não serve apenas para “passar a dieta”, o profissional da saúde faz muito mais do que isso. Davi conta que o primeiro passo numa consulta é saber como está a composição corporal do paciente. “Medimos o percentual de gordura corporal e de massa magra e a partir disso é possível traçar objetivos e metas mais condizentes do que simplesmente uma redução de peso, por exemplo”. Ele pontua que o trabalho do profissional da nutrição é muito mais complexo do que simplesmente dizer o que a pessoa deve comer. “Uma consulta nutricional não é só passar uma dieta como muitas pessoas pensam, é o início de um tratamento para mudar o hábito alimentar de alguém”.

Segundo Davi, é importante medir a gordura corporal do paciente durante as consultas para melhor acompanhamento FOTO: JL Rosa

Davi esclarece que precisa entender a rotina diária do paciente. “Eu tenho que saber tudo o que ele faz, em cada horário, sendo bem condizente com a realidade”. Segundo ele, é a partir desses dados que o nutricionista consegue entender como é o gasto energético diário do paciente e quantas calorias ele precisa para manter o organismo funcionando e fazer atividades físicas. Entender os atuais hábitos alimentares do paciente também é fundamental. “Ele precisa falar quais alimentos ele gosta mais e os que ele não gosta, ou não pode comer por algum motivo, e quais desses ele tem disponibilidade para preparar”.

A partir do consumo, o nutricionista consegue calcular quantas calorias e quantas gramas de carboidrato, proteína e gordura ele ingere. Com essas informações ele pode identificar carências ou erros que podem estar induzindo a um mau resultado e montar um planejamento alimentar individualizado para o paciente. “Não é só o resultado inicial, tem que ser algo que ele consiga seguir a longo prazo para levar um estilo de vida diferente”. Ele explica que isso só é possível caso o paciente esteja disposto a seguir as indicações e voltar para fazer o acompanhamento. “A cada retorno a gente consegue ver quanto de gordura aquele paciente perdeu e quanto de massa muscular ele ganhou”.

Segundo Davi, existem muitos pacientes que têm um pensamento diferente em relação à alimentação. “Tem pacientes que buscam amparo emocional na comida, para tratar ansiedade ou tristeza”. O profissional exemplifica com as pessoas que têm dias estressantes e veem na comida um conforto. “O cara teve um dia ruim e quando chega em casa diz ‘eu mereço comer um chocolate’”.

É comprovado que alimentos açucarados liberam neurotransmissores, como a serotonina, que causam uma sensação de relaxamento. “Quando acabar o efeito da serotonina tudo volta ao que era antes e os problemas continuam do mesmo jeito”. O nutricionista pondera que os pacientes que persistem nesse tipo de atitude chegam em pouco tempo ao sobrepeso e à obesidade. Davi pondera que é necessário algumas ferramentas comportamentais para que o paciente mude o hábito.

Metabolismo e efeito platô

Segundo o nutricionista, a maioria das pessoas ganham peso hoje não porque têm um metabolismo lento, mas tem um comportamento que vai levar ao ganho de peso. “Existem as que têm maior facilidade de ganhar ou perder peso, mas mudando os hábitos com um estilo de vida saudável, aliado a atividade física, qualquer um consegue emagrecer”. Ainda sim o profissional explica que existem indivíduos com o metabolismo lento e outros mais rápido e relaciona que ao conhecer os hábitos do paciente, consegue identificar onde ele se enquadra. “Independente de acelerado ou mais devagar, eu consigo fazer o planejamento de acordo com o metabolismo de cada um”.

EFEITO PLATÔ: É a acomodação que o corpo faz para viver com poucas calorias. O indivíduo "estaciona" o processo de emagrecimento porque o corpo se acostuma com a nova condição

Ele pontua que os erros em dietas sem acompanhamento são frequentes por causa da falta desse tipo de informação. “Se o paciente que tem o metabolismo rápido comer pouco, ele pode desacelerar e estragar o metabolismo do organismo dele, isso acontece muito com quem faz dieta restritiva”.

Com isso, Davi esclarece que, nesse caso, a ação necessária para corrigir o problema é inversa ao que a maioria das pessoas pensa. O processo, segundo ele, é uma correção no custo metabólico através das calorias que o profissional indica na dieta baseado no gasto diário do paciente. “Para que aquela pessoa consiga perder gordura, a gente tem que fazer um aumento gradativo no consumo de calorias pro metabolismo voltar a ficar acelerado e ela conseguir emagrecer”.

O nutricionista pontua que dietas hipocalóricas geram uma perda inicial de peso considerável, mas que geralmente não é de gordura. "Durante a avaliação, fica claro que a perda de peso maior foi de de massa muscular e água". Segundo ele, o organismo entende que, com a pouca ingestão de calorias, o corpo deve poupar energia, entrando num estado de escassez. "A gordura corporal é como se fosse uma poupança no banco. Se você come poucas calorias, o organismo vai tentar economizar gordura, que é fonte de energia".

Com a perda de massa muscular e água, o metabolismo do indivíduo pode desacelerar, causando um efeito contrário. "Por mais que o paciente coma poucas calorias, ele não vai conseguir emagrecer porque vai entrar no estado de platô". Efeito platô é o nome dado à adaptação do organismo a algum estímulo. Nesse caso, é a acomodação que o corpo faz para viver com poucas calorias. "Chega um paciente consumindo somente 800 calorias e quando eu aumento a dieta dele para 1.500, por exemplo, ele consegue perder peso".

O profissional alerta que o aumento só é feito em conjunto com outros conceitos da nutrição, como os tipos de carboidratos, o consumo de proteínas e a distribuição desses nutrientes ao longo do dia. “Tudo isso junto vai estimular que o organismo utilize a gordura como fonte de energia”.

Sucesso nutricional

Suelen Ramos conta que nunca foi uma pessoa magra. “Eu me olhava no espelho e não gostava do que eu via”. Ela explica que foram questões estéticas que levaram à mudança, mas que, com o tempo, a saúde bateu na porta. “Eu tinha problemas hormonais, colesterol alto, enxaqueca e refluxo”. A autônoma de 29 anos conta que a mudança nos hábitos alimentares transformou a vida de uma forma positiva. “Eu só vi benefícios na minha saúde e melhorei muito por causa da alimentação, fora a estética, que eu mudei o guarda-roupa todo”. Suelen perdeu 20kg em um ano.

Eu não consigo mensurar muito porque é mais caro mas também é mais benéfico, eu acabo não fazendo essa conta porque se é mais benefício não tem problema
Suelen Ramos, sobre o aumento no gasto com alimentação saudável

Ela lembra que foi com uma assessoria esportiva que tudo começou. “A assessoria me acompanhou por três meses com dieta e treino e eu perdi 10kg nesse período”. Com o excelente resultado ela procurou uma nutricionista, que fez um plano alimentar bem restritivo a pedido dela. “Eu não fui tirando aos poucos, eu realmente eu disse ‘eu não vou mais comer’ e eu não comi”. Suelen explica que aos poucos, com a ajuda da nutricionista, adicionou um adoçante de qualidade e o sal rosa. “Hoje o que eu faço é uma alimentação limpa, mais ‘de verdade’, eu mudei todos os temperos da minha cozinha e evito produtos industrializados. Foi um 360 que eu dei e graças a Deus estou muito bem”.

Inspirado na esposa, o bancário Francisco Ribamar, 33, também perdeu 20kg. O marido de Suelen viu a esposa mudar os hábitos e seguiu a mulher. “Ele me viu fazendo e foi fazendo igual a mim, não foi uma coisa mais específica só pra ele”. Ela conta que apesar do marido correr, foram as mudanças na cozinha influenciaram que diretamente na perda de peso do marido. Ela explica que a maior dificuldade foi a questão financeira. Ela calcula que fazia compras uma vez por mês e passou a ir três vezes ao mercado e calcula um aumento de 50% no gasto com alimentação. “Eu não consigo mensurar muito porque é mais caro mas também é mais benéfico, eu acabo não fazendo essa conta porque se é mais benefício não tem problema”.

Eu percebi que era um processo vicioso que precisava ser rompido por um profissional, mas o que faltava era a minha vontade de seguir a dieta
Carla Barreto, oficiala de justiça

Carla Barreto iniciou bem cedo as restrições alimentares. “As dietas malucas começaram com 14 anos, que é aquela fase de não aceitação do corpo”. Como a informação era mais restrita na época, a oficiala de justiça conta que resolveu, por conta própria, criar uma dieta, que hoje se aproxima muito da dieta da proteína. “Eu tentei passar uma certa fome e comer aquilo que eu gostava e que sabia que não era tão ruim. Já se tinha noção de que o carboidrato era inimigo, então eu comia muita proteína, frutas, evitava arroz no almoço e não jantava”. Ela conta que atingiu o objetivo de perder peso mas sofreu um efeito colateral. “De fato eu perdi um peso significativo, mas fiquei flácida”.

Carla explica que com o tempo recuperou o peso e entrou no efeito sanfona. “Eu parei com as dietas malucas quando eu dei uma grande engordada no intercâmbio e fui procurar um nutricionista”. Ela recorda que foi quando começou a praticar Yoga que conheceu uma nutricionista que a marcou. “Ela fez um acompanhamento mais global, uma coisa bem mais consciente e com muitas dicas de como deixar o alimento preparado, usar sacos com fecho, deixar um frango já temperado”. Com as soluções práticas da profissional e uma conscientização maior, a servidora pública se estimulou e botou em prática.

Dieta do jejum intermitente

O que é?
Comer quando se está com fome
Esta dieta tenta imitar como nossos ancestrais se alimentavam

Davi conta que essa dieta surgiu da ideia de que nossos ancestrais faziam esse tipo de dieta. "A gente caçava, comia e ficava horas sem comer". Ele explica esse processo se repetia, sendo algo diário. "Dessa forma, o jejum intermitente poderia ser algo mais condizente com a fisiologia humana". Segundo ele, já existem estudos publicados em periódicos científicos comprovando que não existe uma diferença significativa entre o jejum intermitente e uma dieta regular. "A técnica emagrece, mas usando uma estratégia convencional você vai perder peso da mesma forma, não existe nenhum benefício extra".

O nutricionista pontua ainda que existem vários tipos, onde o paciente fica 16 horas ou até mesmo um dia inteiro sem se alimentar e lamenta os problemas que podem causar. "Ele pode ser feito de uma forma errada, porque as pessoas tentam ser autodidatas e isso pode causar episódios de hipoglicemia, problemas gastrointestinais, indisposição, fraquezas ao longo do dia e até desmaios".

Dieta cetogênica

O que é?
Menos carboidratos e mais gorduras
Manteiga, frango e azeite podem entrar nesta dieta FOTO: Allan de França

A cetose acontece quando o organismo usa os depósitos de gordura como fonte energética. Para conseguir isso, a dieta cetogênica sugere uma diminuição no consumo de carboidratos e, para compensar a redução na principal fonte de energia do corpo, um aumento na quantidade de gorduras ingeridas.

Atenção

Quantidades de gordura e proteína erradas podem anular o objetivo da dieta

Davi explica que a teoria funciona na prática. "Ela realmente causa uma perda expressiva de gordura corporal". Mas a grande dificuldade, segundo ele, é a aplicabilidade. "Quando o indivíduo assume a dieta cetogênica ele não pode mais comer carboidrato e isso é inviável para a maioria das pessoas. Se o paciente comer qualquer fonte de carboidrato, ele vai quebrar o protocolo e a cetose não acontece".

Entrando no comportamento alimentar, o nutricionista pondera que a dieta pode ser um tiro no pé, já que o lado psicológico também está envolvido no processo. "Se ele e vier de uma dieta ruim, comendo muita besteira, e a dieta tirar aquilo de uma vez, isso pode aumentar ainda mais a compulsão alimentar”.

Ele reforça que a dieta funciona, mas que como não traz nenhum benefício extra, com um planejamento adequado é possível conseguir os mesmos resultados. "Você pode emagrecer de uma forma expressiva, saudável e sem precisar fazer nenhuma restrição séria".

O profissional alerta que uma dieta cetogênica feita sem acompanhamento de um profissional pode ser até prejudicial. "Se a pessoa errar nas quantidades de gordura e proteína pode não gerar a cetose, anulando o objetivo da dieta, além de causar fraquezas, indisposição, cansaço, dores de cabeça e até aumentar o nível de stress do indivíduo".

Low carb

O que é?
Reduzir o consumo de carboidratos na dieta
O consumo de massas, como o macarrão, em quantidades pequenas fazem parte desta dieta
A dieta low carb indica um consumo de até 50g de carboidrato por dia. Isso seria quatro colheres de arroz no almoço, que contém 25g, e um pão carioquinha, que também tem aproximadamente 25g

Indicada para indivíduos que já tem o nível de gordura baixo e querem reduzí-lo ainda mais, a dieta low carb não deve ser feita por pessoas normais. "Atletas que já tem nível de gordura em 10%, 9% ou 8% e querem reduzir ainda mais podem utilizar uma dieta low carb". Davi explica que pessoas comuns não devem fazer uso da dieta, pois geralmente não conseguem manter o planejamento e o resultado não justifica a restrição. "Você até tem um resultado inicial bom, mas é muito mais vantajoso você trabalhar o comportamento alimentar e ir melhorando outras vertentes de uma forma mais gradativa e conseguir um resultado melhor a médio e a longo prazo".

Dieta da Proteína

O que é?
Baseada no consumo apenas de proteínas
Queijo branco, ovos e iogurte podem entrar nesta dieta FOTO: Allan de França

Como o próprio nome diz, na dieta da proteína o indivíduo vai comer apenas proteína, como carne, frango, peixe, ovo, leite e derivados e suplementos proteicos como whey protein e barras de proteína. "O objetivo é perder gordura mas isso não acontece porque a proteína não é eficientemente usada como fonte de energia no nosso organismo”. Segundo Davi, ela até pode ser utilizada, mas caso seja em grande quantidade, o corpo humano acaba liberando o grupo nitrogenado da proteína, que pode ser tóxico. “Acaba não sendo muito benéfico ingerir só proteínas e você ainda tende a perder massa muscular, já que não vai estar consumindo uma boa quantidade de energia”.

1kg de gordura corporal tem em média 7.700 calorias

De acordo com o nutricionista, é preciso fazer um planejamento alimentar que o paciente consiga seguir. “Sem isso você fica no efeito sanfona: fazer uma dieta inviável, desistir e engordar, faz outra dieta inviável, desistir e engordar mais ainda”. Davi acredita que uma dieta só é eficaz quando o paciente aceita aquilo como um estilo de vida. “Se levar a dieta como um esforço, uma obrigação para emagrecer, o indivíduo não vai conseguir”.

Dieta Detox

O que é?
Rica em alimentos orgânicos e em fibras
Há vários exemplos de sucos detox
Você escolher um dia pra comer só besteira na minha opinião significa que você está assumindo que aquele planejamento alimentar é tão ruim que você precisa de um dia pra relaxar e comer besteira o dia inteiro
Davi Trompieri sobre o ‘dia do lixo’

Segundo Davi, ainda não há um estudo certificando que as dietas Detox funcionam. "Não existe nenhum estudo comprovando que esse tipo de dieta vai melhorar as funções das enzimas hepáticas do seu fígado, que é o órgão responsável por desintoxicar o organismo". Ele alerta que uma dieta líquida vai causar perda de massa muscular e alterar o metabolismo do indivíduo pela falta de calorias. "Para desintoxicar o organismo o paciente deve reduzir os excessos, parar de consumir alimentos muito industrializados, principalmente os com sódio, e usar fitoterápicos, como o chá verde, que esse sim melhora as enzimas de desintoxicação hepáticas".