Diário do Nordeste Plus

Aeromodelismo
ganha força em fortaleza

Conheça os aviões, os valores de cada modelo,
os locais propícios para voo e como a atividade é vista em solo cearense

Assuntos que outrora eram tratados como brincadeira de criança estão se tornando fundamentais para a vida adulta. Todo exercício utilizado para passatempo e lazer é intitulado como hobby. De acordo com a psicóloga Sabrina Matos, possuir uma atividade de distração é fundamental para o equilíbrio mental, espiritual e físico de um ser humano. Isso porque é necessário tirar a mente dos estresses diários ocasionados pela correria. "O hobby para o homem é como uma válvula de escape, permitindo que ele tenha um tempo para não se preocupar com nada, apenas no seu prazer e na sua descarga de tensão", explica.

Aeromodelos na pista de pouso Foto: Reinaldo Jorge Aeromodelos na pista de pouso Foto: Reinaldo Jorge

Desde a sua criação, em 1870, os aeromodelos vêm ganhando mais espaço entre os públicos. A princípio, só quem possuía o hobby eram adultos apaixonados por aeronáutica. Depois de um tempo, as crianças também foram se interessando pela brincadeira por conta da interação que elas possuem com as aeronaves.

O hobby também conta com muitos adeptos em Fortaleza. Mesmo chegando um pouco mais tarde do que em outros centros, o aeromodelismo cresceu muito nos últimos anos na Capital cearense. Atualmente já existem vários locais específicos para os voos das aeronaves, como Aerodunas Porto das Dunas, Associação Cearasas de Modelismo, Centro Cearense de Modelismo, Centro Integrado de Modelismo, entre outros. Além do mais, também se encontram fabricantes de aviões, mecânicos e lojas específicas que vendem modelos e acessórios para os amantes da atividade.

Aeromodelismo como profissão

O ex-profissional de contabilidade, Sidney Antunes, largou tudo para dar prioridade ao aeromodelismo, que se tornou sua paixão. A aproximação com o hobby começou aos 12 anos através de um amigo que construía aviões para um antigo aeroclube situado na BR-116. "Eu me apaixonei quando vi o Luciano construir um Tucano Glow com motor 36, o maior da época, totalmente de madeira. A partir dali começou o meu contato", relembra.

Atualmente Sidney vive apenas de aeromodelismo. Ele é um dos componentes da Associação Cearasas de Modelo, instrutor de voo, fabricante e mecânico de aeromodelos há 16 1anos. De acordo com o profissional, construir um nome dentro da área não foi uma tarefa fácil, pois no começo vários aeromodelistas não confiavam em entregar seus modelos nas mãos de qualquer pessoa. O motivo era o receio de danificar as peças.

O impulsionamento do hobby no Brasil foi ocasionado por causa das baterias de lipo, que possibilitou mais opções de modelos elétricos. Segundo o profissional, a expansão do aeromodelismo em Fortaleza não foi diferente. "Moramos na Capital que possui mais locais de voo do Brasil, contando com aeroclubes, praias e outros locais propícios. Essa liberdade fez com muitas pessoas começassem a voar", frisa.

"Encontrar mecânicos adequados que trabalhem bem com aeromodelos é muito difícil. Várias pessoas não confiam em entregar aeronaves de R$ 5.000 a R$ 10.000 na mão de qualquer um"
Sidney Antunes, aerodesign e mecânico de aeromodelos

Como o aeromodelismo é a sua profissão, Sidney nunca para de criar, consertar e/ou vender aeronaves. Isso fez com que ele perdesse as contas de quantos aeromodelos já criou. Os únicos números que o profissional ainda tem em mente são das réplicas que possui. Atualmente ele tem um P-40, um Pilatus, um F-35, um P-51 e mais 3 helicópteros.

Réplica do P-40, avião utilizado na segunda guerra mundial Foto: Reinaldo Jorge Réplica do P-40, avião utilizado na segunda guerra mundial Foto: Reinaldo Jorge

Um dos instrutores mais procurados em Fortaleza, Sidney dá aulas para que os iniciantes de aeromodelismo possuam mais confiança no voo e também não danifiquem suas aeronaves. "O número de aulas para um aluno voar é impreciso, pois uns aprendem rápido enquanto outros demoram mais. Também não há idade para começar no hobby. "Oriento pessoas de 4 até 60 anos", conclui.

  • Voo Circular Controlado

    No qual o aeromodelo fica ligado ao aeromodelista por meio de cabos, que podem variar de 15 a 18 metros de comprimento. O aeromodelista faz então movimentos circulares e manobras através dos cabos.

  • Voo Livre

    Nessa modalidade, o aeromodelo, depois de lançado, não sofre mais nenhuma interferência por parte do aeromodelista. Pode ser aeromodelo com motor, com elástico ou sem propulsão própria.

  • Rádio Controlado

    O aeromodelo é controlado por meio de um transmissor de radiofrequência que pode ser sintonizado em FM, AM ou PCM. Além do mais, é apto com sistemas mais modernos como a conexão 2.4Ghz, que bloqueia a interferência e fornece mais segurança.

Fundamental para o dia a dia

Manoel Messias chegou ao aeromodelismo há cinco anos. A sintonia do empresário com o hobby veio por conta da sua paixão por aviões. Bem no início, a aquisição de aeromodelos era apenas para compor sua coleção de aeronaves. Foi depois de um tempo que ele sentiu a necessidade de controlar suas máquinas. "Comecei voando com modelos elétricos de isopor, mas sempre quis aumentar de nível dentro da categoria. Atualmente eu estou pilotando aviões de 30 a 50 cilindradas movidos a gasolina e também helicópteros elétricos", conta.

Hoje Messias é totalmente independente dentro do aeromodelismo e controla com perfeição as suas aeronaves. Porém, para chegar até essa fase, foi uma tarefa difícil, pois teve que deixar de lado a ideia de que aprenderia sozinho para passar a receber aulas de um instrutor. A partir das orientações do profissional é que ele começou a ter noção de como aterrissar corretamente, não perder controle por causa do vento e até realizar manobras adequadas.

O empresário só precisou de quatro aulas com o seu instrutor para começar a ficar independente no aeromodelismo. O resultado disso foi ocasionado pelo bom conhecimento da sua aeronave e também devido a algumas horas de voo sem a orientação de um profissional, coisa que não é recomendada. Já no helicóptero, Messias necessitou de 10 aulas para sobrevoar sem que o seu rádio-controle fosse cambiado, ou seja, dividido com o tutor.

"A primeira vez que voei não possuía nenhuma noção de arrancada e aterrissagem. Isso fez com que prejudicasse muito meus aviões. Depois das aulas com um instrutor é que comecei a ficar independente"
Manoel Messias, aeromodelista

Atualmente Messias conta com dois aviões, um de 30 cilindradas e outro de 50, ambos movidos a gasolina. Mesmo tendo pouco tempo no hobby, o empresário já perdeu as contas de quantos aeromodelos possuiu. "Eu venho desde a classe dos modelos elétricos feitos de isopor. Conforme você vai evoluindo vai mudando de avião. Com as modificações das classes acontecem as substituições dos aviões".

Ainda de acordo com ele, hoje o aeromodelismo representa mais que uma atividade de lazer e se tornou uma válvula de escape dos seus problemas diários. "Por conta do aeromodelismo e também da Associação Cearasas de Modelismo, clube que faço parte, construí grandes amizades. Neste hobby todo mundo se ajuda e se trata bem. Isso fez com que isso fosse fundamental no meu dia a dia", finaliza.

Valores e recomendações

O instrutor de voo Clécio Oliveira trabalha com aeromodelismo há um bom tempo em Fortaleza. Além de orientar sobre os voos, ele também ajuda os novos pilotos a escolherem os seus primeiros modelos. "Eu sempre digo que é melhor começar com um avião elétrico que tenha asa alta. Isso porque ele plana mais no ar, não tem muita arrancada e o seu rádio-controle não é tão complicado para os usuários de primeira viagem".

Depois que a escolha do avião é definida, não adianta apenas ir para um aeroclube específico e voar. Isso porque a maioria dos pilotos de primeira viagem perdem o controle da aeronave e a destroem logo no início. "Muitos pensam que só precisam comprar a miniatura e voar. Não é assim. Antes de controlarem o modelo sozinhos é aconselhável ter aulas com um instrutor de voo. Isso facilita para que os modelos não se danifiquem com as quedas", fala Clécio.

Manoel Messias com o seu aeromodelo Funtana Foto: Reinaldo Jorge Manoel Messias com o seu aeromodelo Funtana Foto: Reinaldo Jorge

Existe também uma segunda opção que ajuda os novos aeromodelistas a ter uma noção de como é que se pilota um aeromodelo. Através de um simulador disponível para computador, os novatos poderão ter contato com o rádio-controle, escolher vários modelos de aviões e também definir o posicionamento do vento.

Segundo Clécio Oliveira, o preço de um aeromodelo varia de acordo com a fábrica e o revendedor. O motivo da inconstância é por causa das "peças" serem vendidas separadamente, ou seja, o modelo, o motor e o controle custam um valor específico. "Uma aeronave elétrica e completa para um iniciante custa em média R$ 1.100. Agora se o modelo for a combustão gira em torno de R$ 2.800. Já modelos intermediários variam em torno de R$ 3.000 e podem chegar em uns R$ 8.000. Enquanto que os profissionais podem ultrapassar R$ 35 mil", finaliza.

Combustível específico

Assim que chegam no aeromodelismo, os apaixonados pela área podem escolher entre duas opções de motores para a sua aeronave, a elétrica e a de combustão. Por causa do melhor custo benefício, os iniciantes no hobby escolhem as baterias como solução, uma vez que elas só necessitam de algumas cargas para ficarem aptas ao voo. Porém, assim que os anos passam, os frequentadores tendem a preferir os combustíveis para abastecerem seus aviões. Isso porque a energia enviada ao motor por causa da combustão dá mais força às máquinas.

Na maioria dos casos, os pequenos aviões são vistos apenas como brinquedos. O que muita gente não sabe é que os modelos que possuem motores movidos a combustão necessitam dos mesmos tipos de reabastecimento que os aviões comerciais. A utilização dos combustíveis dependerá das opções das máquinas, ou seja, se uma aeronave tiver um motor de pistão, ela deverá utilizar a AVGAS 100LL, gasolina de aviação. Enquanto que as aeronaves mais modernas que fazem uso de turbinas e/ou turbo hélice necessitam do JETA A-1, querosene de aviação.

Reabastecer os miniaviões não é uma tarefa fácil. Primeiro porque os aeromodelistas têm como obrigação possuir uma espécie de passe para comprar os combustíveis. Para isso, eles devem responder um formulário descrevendo sobre qual a finalidade da compra. Depois de feito, os usuários precisam se dirigir aos clubes certificados e/ou aeroportos. Estas são as opções mais recomendadas sobre os postos de fornecimento. Isso porque os locais são fiscalizados anualmente pelas companhias aéreas para saber se não há adulteração no produto.

O preço dos dois tipos de combustível é bastante variável, pois possui relação direta com as refinarias. Há épocas de aumento e outras de redução de valor. Atualmente o litro de JETA A-1 (querosene) fica em média por volta dos R$ 4,00 o litro. Enquanto que a AVGAS 100LL (gasolina de aviação) está em média R$ 8,00 o litro.

Hiato

Roan Trajano com o seu Piper J-3 Foto: Reinaldo Jorge Roan Trajano com o seu Piper J-3 Foto: Reinaldo Jorge

Roan Trajano começou a se aproximar do aeromodelismo no ano de 2011. A paixão pelo hobby aconteceu depois que ele presenciou um encontro de aviões no Aerodunas Porto das Dunas. Querendo fazer parte do grupo de pilotos, o jovem, sem orientação necessária, decidiu comprar a sua primeira aeronave: um Piper J-3. "Eu encomendei o meu modelo fora de Fortaleza, pois na época aqui não tinha o que eu queria. Logo no início eu investi cerca de R$ 2.500. Dentro deste valor estava o avião, o rádio, as baterias e alguns acessórios", complementa.

Mesmo com o seu próprio avião, Roan não podia voar diariamente por conta das restrições de voo impostas. Para levantar seu modelo tinha que ir nos clubes apropriados. "Todos os sábados eu ia com a minha aeronave ao Aerodunas. Logo no começo eu ficava voando pela manhã e à tarde. Minha pausa era para almoçar", fala Roan Trajano.

Atualmente Roan está afastado do aeromodelismo por conta do trabalho. Segundo ele, dando mais prioridade a sua carreira. O profissional fez um curso de mecânica da aviação na SAT Escola de Aviação Civil, mas também atua na área de segurança digital. O piloto ressalta que a pausa no hobby não tem a ver com questões financeiras, mas pelo tempo.

"Aeromodelismo é acessível para todas as classes financeiras",
Roan Trajano, ex-aeromodelista.

Nos cinco anos em que Roan ficou inserido no aeromodelismo, ele possuiu três modelos do Piper J-3. Por causa de alguns deslizes teve que substituir as asas em três ocasiões. Além destes modelos, o piloto ainda possuiu cinco planadores. Em um levantamento feito pelo próprio aeromodelista, ele constata que investiu em torno de R$ 10 mil, somando todos os seus aviões e acessórios.

Experiente na área, Roan acredita que o preço que investiu foi o resultado de alguns descuidos que cometeu no início do aeromodelismo, quando ainda era amador,e também por causa do combustível. Já "calejado" no hobby, atualmente ele é uma espécie de orientador dos iniciantes. "Antes de começar a voar é necessário pesquisar e saber quais aeronaves é melhor para iniciar. Para não danificar a máquina é importante possuir algumas aulas de voo. Por fim, não se apressar e não desistir depois da primeira queda", finaliza.